segunda-feira, 23 de maio de 2016

Tempo da junk

"Nick pontuava seu discurso com uma risadinha zombeteira. Era uma espécie de desculpa por fazer uso da fala no mundo telepático dos dependentes, onde somente o fator quantidade – Quanto dinheiro? Quanta junk? – requer expressão verbal. Nós dois sabíamos tudo a respeito da espera. O ramo das drogas, em qualquer nível, opera sem horários. Ninguém entrega alguma coisa na hora combinada, exceto por acidente. O dependente funciona no tempo da junk. Seu corpo é seu relógio, e a junk escorre por dentro dele como em uma ampulheta. Para o viciado, o tempo só significa alguma coisa quando está relacionado com a necessidade. É quando o dependente realiza sua intrusão abrupta no tempo alheio, e como todos os Intrusos, todos os Suplicantes, deve esperar, a menos que consiga coincidir com o tempo extrínseco à junk."

William S. Burroughs (1914-1997). Almoço nu (1959). São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 239-40

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