"Nick pontuava seu discurso com uma risadinha zombeteira. Era uma
espécie de desculpa por fazer uso da fala no mundo telepático dos
dependentes, onde somente o fator quantidade – Quanto dinheiro? Quanta
junk? – requer expressão verbal. Nós dois sabíamos tudo a respeito da
espera. O ramo das drogas, em qualquer nível, opera sem horários.
Ninguém entrega alguma coisa na hora combinada, exceto por acidente. O
dependente funciona no tempo da junk. Seu corpo é seu relógio, e a junk
escorre por dentro dele como em uma ampulheta. Para o viciado, o tempo
só significa alguma coisa quando está relacionado com a necessidade. É
quando o dependente realiza sua intrusão abrupta no tempo alheio, e como
todos os Intrusos, todos os Suplicantes, deve esperar, a menos que
consiga coincidir com o tempo extrínseco à junk."
William S. Burroughs (1914-1997). Almoço nu (1959). São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 239-40
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