"Escondidos em meio à vegetação da floresta, observávamos a anta que
bebia à beira da lagoa. Suas costas estavam feridas, fundos cortes onde o
sangue ainda se via. O guia explicou. 'A anta é um animal apetitoso,
presa fácil das onças. E sem defesas. Contra a onça ela só dispõe de uma
arma: estabelece uma trilha pela floresta, e dela não se afasta. Este
caminho passa por baixo de um galho de árvore, rente às suas costas.
Quando a onça ataca e crava dentes e garras no seu lombo,
ela sai em desabalada corrida por sua trilha. Seu corpo passa por baixo
do galho. Mas não a onça, que recebe uma paulada. E assim, a anta tem
uma chance de fugir.'
Acho
que a educação frequentemente cria antas: pessoas que não se atrevem a
sair das trilhas aprendidas, por medo da onça. De suas trilhas sabem
tudo, os mínimos detalhes, especialistas. Mas o resto da floresta
permanece desconhecido."
Rubem Alves (1933-2014). A alegria de ensinar. Campinas: Papirus, 2000. p. 31
Rubem Alves (1933-2014). A alegria de ensinar. Campinas: Papirus, 2000. p. 31
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