"O sistema nervoso vegetativo se expande e se contrai em resposta a
ritmos viscerais e estímulos externos. Expande-se quando recebe
estímulos reconhecidos como prazerosos – sexo, comida, contatos sociais
agradáveis etc. – e se contrai em resposta a dor, ansiedade, medo,
desconforto e tédio. A morfina altera todo esse ciclo de expansão e
contração, liberação e tensão. A função sexual é desativada, os
movimentos peristálticos são inibidos, as pupilas param de se retrair em
resposta à luz e à escuridão. O
organismo não se contrai por causa da dor nem se expande por conta de
fontes normais de prazer. Ele se ajusta ao ciclo da morfina. O
dependente é imune ao tédio. Consegue passar horas encarando o próprio
sapato ou simplesmente deitado na cama. Não precisa de sexo, contatos
sociais, trabalho, diversão ou exercício, apenas de morfina."
William S. Burroughs (1914-1997). Almoço nu (1959). São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 287-8
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