quarta-feira, 11 de maio de 2016

Educar para a felicidade

"Nietzsche, que via sua missão como a de um educador, se horrorizava diante daquilo que as escolas faziam com a juventude: 'O que elas realizam', ele dizia, 'é um treinamento brutal, com o propósito de preparar vastos números de jovens, no menor espaço e tempo possível, para se tornarem usáveis e abusáveis, a serviço do governo'. Se ele vivesse hoje certamente faria uma pequena modificação na sua última afirmação. Em vez de 'usáveis a serviço do governo', diria 'usáveis e abusáveis a serviço da economia'.

À medida que vou envelhecendo tenho cada vez mais dó deles, das crianças e dos jovens. Porque gostaria que a educação fosse diferente. Vejam bem: não estou lamentando a falta de recursos econômicos para a educação. Não estou me queixando da indigência quase absoluta de nossas escolas.

Se tivéssemos abundância de recursos, é bem possível que acabássemos como o Japão, e nossas escolas se transformassem em máquinas para a produção de formigas disciplinadas e trabalhadoras.

Não creio que a excelência funcional do formigueiro seja uma utopia desejável. Não existe evidência alguma de que homens-formiga, notáveis pela sua capacidade de produzir, sejam mais felizes. Parece que o objetivo de produzir cada vez mais, adequado aos interesses de crescimento econômico, não é suficiente para dar um sentido à vida humana. É significativo que o Japão seja hoje um dos países com a mais alta taxa de suicídios no mundo, inclusive o suicídio de crianças."

Rubem Alves (1933-2014). A alegria de ensinar. Campinas: Papirus, 2000. p. 23-4

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