segunda-feira, 23 de maio de 2016

A Doença


"A Doença é a dependência de drogas, e por quinze anos fui um dependente. Quando falo em dependência, estou dizendo que era viciado em junk (um termo genérico para o ópio e/ou seus derivados, incluindo todos os sintéticos, de Demerol a Palfium). Usei diversos tipos de junk: morfina, heroína, Dilaudid, cucodal, Pantopon, Diocodid, Diosane, ópio, Demerol, Dolofina e Palfium. Fumei junk, comi junk, cheirei junk, apliquei junk na veia, na pele, no músculo, enfiei supositórios de junk no reto. A agulha não importa. Tanto faz se você cheira, fuma, come ou enfia no cu, pois o resultado é sempre o mesmo: dependência. [...]

O mundo da junk é moldado em posse e monopólio. O dependente permanece imóvel enquanto é levado por suas pernas de viciado até mais uma recaída na junk. O envolvimento com junk é perfeito e quantitativamente mensurável. Quanto mais junk você usa, menos você tem, e quanto mais você tem, mais você usa. [...]

Junk é o produto ideal... a mercadoria suprema. O vendedor não precisa de lábia. O cliente se arrasta pelo meio do esgoto implorando uma chance de comprar... O vendedor de junk não vende seu produto ao consumidor; vende o consumidor ao seu produto. Não melhora nem otimiza sua mercadoria. Piora a qualidade da mercadoria e otimiza o cliente. Paga seus funcionários em junk."

William S. Burroughs (1914-1997). Almoço nu (1959). São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 263;265

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