segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Sombras

"Era intrigante para mim que suas cortinas estivessem quase sempre abaixadas até os peitoris das janelas. Houve vezes em que vi uma sombra passando por detrás de uma das cortinas, a silhueta fugaz de um homem; contudo, era tão indistinta que eu tinha certeza de estar olhando para a ideia de V. Matheius e não para o homem propriamente dito; pensei na alegoria da caverna de Platão, e como a espécie humana se deixa iludir por sombras; a espécie humana engana a si mesma com as sombras, e, todavia, qual é o conforto que isso traz? 'E ele não sabendo que eu estou aqui, que eu existo. Eu sou invisível para ele'.
Minha face nua, puro anseio feminino."

Joyce Carol Oates (1938-). Levo você até lá (2002). São Paulo: Globo, 2004, p. 120

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