segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A morte




"O cemitério não passava de um descampado nos fundos da igreja, pontilhado de pequenas elevações de pedra e canteiros, que na época das chuvas empoçavam a água; no inverno, impertinentes dunas de neve cobriam metade das lápides. [...] Já me intrigou o fato de que ninguém, na verdade, possa aceitar seu futuro, ninguém verdadeiramente acredite que isso possa acontecer. Tudo o que existe é agora. A modesta lápide de granito cinzento onde está gravado o nome da minha mãe, com sua data de nascimento e morte, estava no extremo final de uma fileira; nas proximidades de um campo não cultivado; quão terrena é a morte, que Spinoza jamais soube explicar; nenhum dos filósofos falou dos cheiros da simples terra úmida e de folhas murchas misturados à fumaça de lenha (à distância um fazendeiro estava queimando tocos de árvores; o pior fedor de fumaça que você poderia imaginar). Deslizei os dedos pela pedra áspera. Pedra congelada."

Joyce Carol Oates (1938-). Levo você até lá (2002). São Paulo: Globo, 2004, p. 60

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