"O cemitério não passava de um descampado nos fundos da igreja,
pontilhado de pequenas elevações de pedra e canteiros, que na época das
chuvas empoçavam a água; no inverno, impertinentes dunas de neve cobriam
metade das lápides. [...] Já me intrigou o fato de que ninguém, na
verdade, possa aceitar seu futuro, ninguém verdadeiramente acredite que
isso possa acontecer. Tudo o que existe é agora. A modesta lápide de
granito cinzento onde está gravado o nome da minha mãe, com sua
data de nascimento e morte, estava no extremo final de uma fileira; nas
proximidades de um campo não cultivado; quão terrena é a morte, que
Spinoza jamais soube explicar; nenhum dos filósofos falou dos cheiros da
simples terra úmida e de folhas murchas misturados à fumaça de lenha (à
distância um fazendeiro estava queimando tocos de árvores; o pior fedor
de fumaça que você poderia imaginar). Deslizei os dedos pela pedra
áspera. Pedra congelada."
Joyce Carol Oates (1938-). Levo você até lá (2002). São Paulo: Globo, 2004, p. 60
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