“É que aqui, essas horas são cheias de assombrações. Se o senhor visse a multidão de almas que andam soltas pelas ruas... Assim que escurece, começam a sair. E ninguém gosta de vê-las. São tantas, e nós tão pouquinhos, que nem tratamos de rezar para que saiam de suas penas. Nossas orações não dariam para todos. No máximo um pedaço de um pai-nosso para cada uma. E isso não adiantaria nada. E além do mais, no meio tem os nossos pecados. Nenhum de nós, dos que ainda vivemos, está nas graças de Deus. Ninguém poderá erguer seus olhos ao céu sem sentir-se sujo de vergonha. E a vergonha não tem cura.”
Juan Rulfo (1917-1986). Pedro Páramo (1955). Rio de Janeiro: BestBolso, 2008, p. 63
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