quarta-feira, 22 de julho de 2015

Damiana Cisneros

“– Esta cidade está cheia de ecos. Parece até que estão trancados no oco das paredes ou debaixo das pedras. Quando você caminha, sente que vão pisando seus passos. Ouve rangidos. Risos. Umas risadas já muito velhas, como cansadas de rir. E vozes já desgastadas pelo uso. Você ouve tudo isso. Acho que vai chegar o dia em que esses sons se apagarão.

Isso era o que Damiana Cisneros vinha me dizendo, enquanto atravessávamos a cidade.

– Teve um tempo em que andei ouvindo durante muitas noites o barulho de uma festa. Os ruídos chegavam até a Media Luna. Cheguei perto para ver aquela animação e vi isto: o que estamos vendo agora. Nada. Ninguém. As ruas tão solitárias como estão agora.” 

Juan Rulfo (1917-1986). Pedro Páramo (1955). Rio de Janeiro: BestBolso, 2008, p. 53

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