"Das coisas às quais você era mais apegado você resolve um belo dia falar cada vez menos, se esforçando, quando não tem escapatória. Não aguentamos mais nos escutarmos sempre falando... Resumimos... Desistimos... Faz trinta anos que conversamos... Não fazemos mais questão de ter razão. Até a vontade de guardar o lugarzinho que você reservou entre os prazeres o abandona... Nos enfastiamos... Doravante basta comer um pouco, criar um pouco de calor em torno de si e dormir o mais possível no caminho para lugar nenhum. Precisaríamos, para recobrar interesse, descobrir novas caretas a fazer diante dos outros... Mas já não temos força para mudar o repertório. Empacamos. Ainda procuramos uns assuntos e uns pretextos para permanecer ali com eles, os companheiros, mas a morte também está ali, fedorenta, ao nosso lado, o tempo todo agora e menos misteriosa do que uma partida de bisca."
Louis-Ferdinand Céline (1894-1961). Viagem ao fim da noite (1932). São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 482
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