quarta-feira, 2 de julho de 2014

juventude



"Era como se tivesse chegado o momento, à idade talvez, em que se sabe muito bem o que se perde a cada hora que passa. Mas ainda não se adquiriu a força e a sabedoria necessárias para se parar de vez na estrada do tempo e além do mais em primeiro lugar se parássemos não saberíamos tampouco o que fazer sem essa loucura de avançar que nos domina e que admiramos desde a nossa juventude. Já temos menos orgulho dela, de nossa juventude, ainda não ousamos confessar em público que talvez só seja isso a nossa juventude, entusiasmo em envelhecer.

Descobrimos em todo o nosso passado ridículo tanto ridículo, embuste, credulidade que desejaríamos talvez parar na mesma hora de sermos jovens, esperar que ela a juventude se distancie, ultrapasse você, vê-la ir embora, se afastar, olhar toda a sua vaidade, pôr a mão no seu vazio, vê-la repassar mais uma vez diante de nós, e depois nós mesmos partirmos, termos certeza de que ela de fato se foi, a nossa juventude, e tranquilamente então, de nosso lado, bem nosso, passarmos devagarinho para o outro lado do Tempo a fim de olharmos de fato como é que elas são, as pessoas e as coisas."

Louis-Ferdinand Céline (1894-1961). Viagem ao fim da noite (1932). São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 307-8

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