quarta-feira, 2 de julho de 2014

Avançando sem medo pela noite



Avançando sem medo pela noite, atordoado, ferido, indignado às vezes, mas firme. Não vou sucumbir. Sairei de "Viagem ao fim da noite" mais forte, mais vivo, mais eu, tenho certeza. Experiência incrível de leitura!

"Realmente, não adoramos nada mais divino do que o nosso cheiro. Toda a nossa desgraça decorre de que temos de continuar sendo Jean, Pierre ou Gaston, custe o que custar, durante anos a fio. Este nosso corpo, disfarçado em moléculas agitadas e banais, o tempo inteiro se revolta contra essa farsa atroz de durar. Elas, nossas moléculas, querem ir se perder o quanto antes no universo, essas gracinhas! Sofrem por serem apenas 'nós', traídos pelo infinito. Explodiríamos se tivéssemos coragem, apenas beiramos a explosão, um dia atrás do outro. Nossa tortura querida ali está trancada, atômica, debaixo da nossa própria pele, com nosso orgulho."

Louis-Ferdinand Céline (1894-1961). Viagem ao fim da noite (1932). São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 358

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