sábado, 5 de julho de 2014

a mesma coisa


 

"Com meu diploma eu podia me estabelecer em outro lugar, lá isso era verdade... Mas não seria outra parte nem mais agradável nem pior... Um pouco melhor o lugar no início, fatalmente, porque as pessoas sempre precisam de algum tempo para chegarem a conhecer você e porem mãos à obra e descobrirem a maneira de prejudicá-lo. Enquanto ainda estão procurando o detalhe que o faz sofrer de maneira mais fácil, você tem um pouco de sossego, mas assim que descobrem o segredo, aí tudo volta a ser a mesma coisa, em qualquer lugar. (...)

Quanto aos pacientes, aos clientes, eu não tinha a menor ilusão... Não seriam num outro bairro nem menos ávidos, nem menos broncos, nem menos covardes do que os daqui. O mesmo vinho, o mesmo cinema, as mesmas futricas esportivas, a mesma submissão entusiasta às necessidades naturais, da boca e do cu, refariam deles lá como cá a mesma horda pesada, abrutalhada, titubeando de uma potoca à outra, linguaruda, sempre, tramoieira, maldosa, agressiva entre um pânico e outro."

Louis-Ferdinand Céline (1894-1961). Viagem ao fim da noite (1932). São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 367

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