"...que tudo no fundo é uma questão de palavras, de combiná-las, de brincar com elas, é o terreno da literatura, que dizem que está acabando por causa do audiovisual, mas isso não cola, é um disparate, as pessoas continuam loucas por inventar escritos que convençam de alguma coisa ou emocionem, mesmo que seja tudo mentira, o que importa é que você acredite, depende de como as palavras são ditas e de como você as escuta. O próprio amor, não é acima de tudo uma questão de palavras? Pelo menos o dos romances, que é o que faz chorar; alguma coisa há de ter a água quando é benta (...). Há muitíssimos anos, recebi um conselho de um professor de literatura do colégio: que nunca deixasse de apanhar palavras com minha rede de caçar borboletas, disse isso depois de ver uma colagem que eu tinha feito, chamada 'O filólogo'. Don Pedro Larroque, esse era o nome dele, e graças a seu conselho continuo em pé, porque a literatura já me salvou de muitos poços escuros."
Carmen Martín Gaite (1925-2000). Nebulosidade Variável (1992). São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 153-4
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