quinta-feira, 24 de outubro de 2013
a semente espera
"A escuridão começa pelas bordas
e vai seguindo até chegar ao centro,
lá onde uma semente aguarda a hora,
tranquilamente, sem medo do escuro:
pois é da natureza das sementes
se afastar da luz, mergulhar no úmido,
sepultar-se por toda uma estação.
No entanto, neste caso a escuridão
é de outra espécie, mais seca e mais rasa,
uma que avança devagar e sempre,
alheia a qualquer propósito ou causa,
até só restar pedra sobre pedra.
Mas a semente espera. Ela é insistente,
e acerta mesmo sem saber que erra."
Paulo Henriques Britto (1951-). In: Poesia Sempre. Ano 10, nº 17, Rio de Janeiro, Dezembro/2002, p. 194
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