domingo, 6 de outubro de 2013

infinita igualdade



"De repente, sem que houvesse nenhum motivo conhecido,
No meio da multidão diferente e indiferente
Me deu uma vontade enorme de morrer...

Não sei se foi a brusca solidão em que me encontrei,
Não sei se foi uma sensação de pequenez que sinto às vezes –
Mas desejei absurdamente morrer.

E foi a primeira vez que olhei para a morte sem nenhum terror,
Com uma certa ternura até.

Eu estava sozinho na rua.
Sozinho e desconhecido,
Sempre tão isolado assim.

Os homens passavam sorrindo,
As mulheres sorriam no braço dos homens,
E havia um perfeito equilíbrio na multidão.
E então principiei a pensar na minha vida.

Na minha vida para sempre desequilibrada
E nesta realidade incompreensível e triste de ser poeta.
E desejei desaparecer, quem sabe, por perceber que sobrava.

A morte foi o único remédio que encontrei,
Porque me faria não contar mais.

E naquele momento eu teria fechado os olhos perfeitamente feliz

E perfeitamente feliz me teria perdido na infinita igualdade..."

Augusto Frederico Schmidt (1906-1965). Nova antologia poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964, p. 27-8

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