sábado, 18 de outubro de 2014

Benjamim


"...segue até a avenida à beira-mar, saúda sem resposta os operários encostados num tapume, e afunda na areia os pés cheios de bolhas. Molha as canelas e procura avistar as ilhas negras, invisíveis no quadro-negro de oceano e céu fundidos. Mas quem já fixou a vista ou a memória na escuridão absoluta sabe que, pouco a pouco, sempre se revelam aqui e ali contornos de um negror ainda mais profundo. E se não tivesse as pernas bambas e o peito arfante, Benjamim se arriscaria a nadar até as ilhas que ele não sabe ao certo se enxerga ou recorda."
Chico Buarque. Benjamim (1995). São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 91

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