sábado, 18 de outubro de 2014

A festa da insignificância


"Ela passa por cima do corrimão e se atira no vazio. No fim de sua queda, quando colide brutalmente com a dureza da superfície da água, fica paralisada pelo frio, mas, depois de alguns longos segundos, ergue o rosto e, como é boa nadadora, todos os seus automatismos se insurgem contra sua vontade de morrer. Ela mergulha de novo a cabeça, tenta aspirar água, bloquear a respiração. Nesse momento, ouve um grito. Um grito que vem da outra margem. Alguém a viu. Compreende que morrer não vai ser fácil e que seu maior inimigo não será seu reflexo incontrolável de boa nadadora, mas alguém com quem ela não contava. Será obrigada a lutar. Lutar para salvar sua morte."
Milan Kundera (1929-). A festa da insignificância (2013). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 48

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