domingo, 29 de dezembro de 2013

Poesia



"Nossos dias nas cadeias e nos manicômios e nos albergues fazem com que possamos saber melhor onde nasce o sol do que qualquer conhecimento prático de Shakespeare, Keats, Shelley... Fomos contratados e demitidos, pedimos demissão, levamos tiros e apanhamos; fomos arrastados enquanto estávamos bêbados; cuspiram em nós porque não jogamos de acordo com a história deles e porque esperávamos por um momento em nossos cubículos com uma máquina de escrever ou até mesmo sem ela, apenas o papel de nossas peles, claro, e o que havia por baixo, e assim, é claro, quando sentávamos para escrever - espancados e combalidos mas sobreviventes - não escrevíamos com exatidão, como uma poesia pensada deveria ser escrita ou como se qualquer pensamento devesse ser escrito. Não cabíamos, é claro, na forma agradável e entorpecida de suas mortes. Não há nada que provoque maior ódio nos mortos do que ver algo vivo."

Charles Bukowski (1920-1994). Pedaços de um caderno manchado de vinho. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 78-9

Nenhum comentário: