sábado, 21 de dezembro de 2013

Isaura



"À noite, outra vez deitada em silêncio, a Isaura pensava sempre que o caminho para a liberdade estava no casamento e no meio das pernas. Pensava que, quando pudesse abrir as pernas, o seu rapaz a amaria por muito tempo e a faria feliz. Pensava que por dentro das pernas um anzol se prenderia ao pênis do rapaz. Um anzol imaginário que justificaria a fidelidade e a companhia para a vida inteira. Ser feliz era igual a ter a companhia dele e o sexo. Sobre o sexo ela não sabia mas imaginava muito. O rapaz dizia-lhe: se não me deres a ferida, não vou querer casar contigo. A Isaura morria de medo. Doía-lhe a ferida de tanto esperar. Pensava que tinha um nome bonito e que tinha nascido com sorte. Só precisava de ser merecedora e esperta. Ele também lhe dava a entender isso. Pedia-lhe que não fosse burra ou parva. Para ser melhor, tinha de aceitar."

Valter Hugo Mãe (1971-). O filho de mil homens. São Paulo: Cosac Naify, 2013, p. 42

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