"Muitas empresas, depois de terem selecionado pessoas medíocres, pelo
 fato de serem dóceis e portanto manobráveis, e depois de terem sufocado
 todo e qualquer vislumbre de iniciativa por parte delas com um 
amontoado de procedimentos e controles, sentem agora a necessidade de 
revitalizar a criatividade e submetem essas mesmas criaturas a 
pseudoformadores, especialistas no assunto. É como se eu preferisse as 
mulheres louras, mas me casasse com uma morena e depois a obrigasse a ir
 ao cabeleireiro oxigenar os cabelos. Esses formadores de criatividade, 
quase sempre americanos ou franceses, frequentemente desprovidos de 
qualquer fundamento científico, assim como do conhecimento do resultado 
de pesquisas sérias, submetem os alunos pagantes, ou melhor, 'bem' 
pagantes, a exercícios psicofísicos 'fantásticos', uma salada feita de 
ioga, banalizada, e joguinhos de charadas, palavras-cruzadas e por aí 
vai. Desconfio instintivamente de todas essas técnicas istriônicas que 
sabe-se lá onde vão dar e que transformam a criatividade, ou seja, a 
expressão mais misteriosa e preciosa da espécie humana, numa espécie de 
gincana.
 Educar um jovem ou
 um executivo para a criatividade hoje significa ajudá-lo a identificar 
sua vocação autêntica, ensiná-lo a escolher os parceiros adequados, a 
encontrar ou criar um contexto mais propício à criatividade, a descobrir
 formas de explorar os vários aspectos do problema que o preocupa, de 
fazer com que sua mente fique relaxada e de como estimulá-la até que ela
 dê à luz uma ideia justa."
 Domenico De Masi (1938-). O ócio 
criativo (2000). Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p. 303-4 [Domenico de 
Masi é um dos mais importantes sociólogos italianos, conhecido pelo 
conceito de "ócio criativo", título de um dos seus livros mais vendidos 
no Brasil. É professor de Sociologia na Universidade La Sapienza de 
Roma, onde atua como diretor da faculdade de Ciências da Comunicação].