terça-feira, 12 de abril de 2016

Alienados


"Existem executivos que nunca caminharam pelas ruas do centro às dez da manhã, que vivem o mundo exterior só na dimensão dos domingos, que nunca foram ao cinema numa sessão das três e meia da tarde, em pleno dia de semana.

Existem milhões desses executivos que vivem num tipo de quartel psíquico e são infelizes porque são limitados. Suas casas são bonitas, mas nelas passam só as noites, os escritórios onde trabalham o dia inteiro são horríveis, moram em bairros agradáveis, cheios de áreas verdes, mas passam a quase totalidade do tempo trancafiados entre quatro paredes de cimento. E para os próprios filhos, na maioria desempregados, sonham com um trabalho parecido com o deles. Enquanto estes mesmos filhos, de vinte ou trinta anos, esconjuram um emprego similar, como se fosse a peste.

Eu acredito que os executivos de meia-idade sejam, sob um certo aspecto, pessoas doentes. E o que é pior: a doença deles é contagiosa.

Transmitem aos mais jovens um estilo de vida baseado no excesso de esforço, na subordinação, em vez da dignidade, e também uma gestão arcaica e opressiva dos tempos e dos espaços, recorrendo à chantagem psicológica: ou você se comporta dessa maneira, ou não terá nunca uma boa carreira. Deveriam ser isolados, para não contagiarem os executivos das novas gerações (por isso eu sou muito cauteloso antes de enviar um aluno meu para fazer um estágio numa empresa). Mas também deveriam ser tratados com carinho. São uns alienados [...]".

Domenico De Masi (1938-). O ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p. 236-7

Nenhum comentário: