tag:blogger.com,1999:blog-12615775664787837842024-02-07T18:24:54.090-08:00Oficina de Histórias"Um elixir cultural para almas sequiosas, este blog: literatura, cinema, história-estória... Uma seleção realizada com tanto esmero e bom gosto que já tornou-se vital a ingestão de goles diários desta rica tela".
Comentário ao Post Ventre FerozFlávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.comBlogger1638125tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-11538095336230311862022-12-24T08:07:00.002-08:002022-12-24T08:07:39.358-08:00ELA ODEIA PAPAI NOEL<div style="text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsOfKMw42c89iijHL0FRjd-TY1NpA3AP72jDtFLa4XAxwtV5BOzR6TUiIvlzX1w9W6F_Frupp9VVeUHWuRSnQioDAcE5Szv9hBau9dUWI-4aLGt3Sv1c0P5h2HXSZniPaXfycnIwPaT6Ue9u6y-SmTgFk6YpEU6rPQQwa7Mak1n8m495KzrMiL9dU7/s1296/9%20ELA%20ODEIA%20PAPAI%20NOEL.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="810" data-original-width="1296" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsOfKMw42c89iijHL0FRjd-TY1NpA3AP72jDtFLa4XAxwtV5BOzR6TUiIvlzX1w9W6F_Frupp9VVeUHWuRSnQioDAcE5Szv9hBau9dUWI-4aLGt3Sv1c0P5h2HXSZniPaXfycnIwPaT6Ue9u6y-SmTgFk6YpEU6rPQQwa7Mak1n8m495KzrMiL9dU7/s320/9%20ELA%20ODEIA%20PAPAI%20NOEL.jpg" width="320" /></a></div><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O sofá onde ela dorme
fica no meio de uma floresta, numa clareira onde os moradores dos bairros da
região jogam fora tudo que não lhes serve mais, de comida estragada a peças de
carro, móveis e eletrodomésticos.</span></p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ela tem 53 anos. Mora na
rua desde 1999, quando brigou com a família por causa do seu vício em álcool,
visto por todos como fraqueza, falta de Deus, de amor e de vergonha na cara.
Não aguentou a pressão e saiu de casa. Procurou emprego como confeiteira, que
era o que sabia fazer, mas não encontrou. Em seguida, procurou em lojas de
roupas, mercearias e outros comércios. Conseguiu trabalhar um tempo como
empacotadora em um supermercado, mas começou a faltar, por causa do vício, e
acabou demitida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">No sofá, ela se enrosca num
grande cobertor de lã e se prepara para dormir, olhando as estrelas no céu
limpo que a cobre nesta noite de 24 de dezembro de 2022.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Para ela, o Natal não
existe. Não como a maioria das pessoas o vê, regado a comida e presentes,
felicitações e famílias reunidas. Nem mesmo vai ao Centro POP receber as
sacolinhas das associações de caridade, todos os anos lá, entregando o que
conseguiram arrecadar, para depois sumirem e só voltarem no ano seguinte. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ela tem ódio do Papai
Noel. Que velhinho é aquele, que não liga para as pessoas passando fome, os
refugiados, os doentes mentais abandonados pelas famílias, os destroçados pela
vida, os suicidas? Quem ele representa com aquela barriga estufada e suas
roupas de inverno? Os famintos da Etiópia é que não, com certeza. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Está quase dormindo. À
meia-noite vai acordar, com as badaladas do sino da igreja, mas logo voltará a
dormir, indiferente ao que estará acontecendo lá fora, nas casas e
apartamentos, nas igrejas e associações.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Antes de fechar os olhos,
porém, vê se aproximar do sofá alguém que, à luz da lanterna que ela acende,
está vestido de vermelho e leva na cara uma barba ridícula de Papai Noel. Ela
não acredita. Isso nunca tinha acontecido antes. Como eles a descobriram? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Lentamente, ela se abaixa,
pega no chão um facão enorme, bem afiado, e se levanta, indo de encontro ao
Papai Noel. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">“Seu maldito”, ela diz, e
avança sobre ele, facão em punho. Papai Noel grita: “Não faça isso, sou eu!”.
Ele tira a barba e ela reconhece seu amigo José Pedro, que vive numa barraca de
lona no centro da cidade. “Onde você arrumou isso, seu imbecil?”. “Roubei do
Papai Noel que distribui balas perto da igreja.” “Tira isso agora.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ele tira a roupa e joga
no chão. São onze horas da noite. Em um saco que traz dependurado no pescoço,
ele pega uma garrafa de cachaça. Os dois se sentam no sofá e bebem. Por um
tempo conversam sobre suas tristes vidas, até que ela tem a ideia de fazer uma
fogueira. Pegam pedaços de madeira e restos de móveis esparramados pelo lixão e
acendem um fogo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">É meia-noite. Quando
ouvem os sinos da igreja tocarem, ela pega a roupa e a barba do Papai Noel e
joga na fogueira. Não dizem ‘Feliz Natal’. Não dizem nada. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><o:p></o:p></p></div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-45556889458689622162022-12-21T10:49:00.002-08:002022-12-21T10:50:23.611-08:00PENSO NAS ABELHAS<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHueWcg4xKnZORdZsJFc5-IXhb5W9CpJZQywy_s3sq3x08m8ROuhUGDKf7aSI8THrq4POt7CAtzAM9zcPA_qUWCH4yGZpfftLTXKi-Bro6gT8qQmkYh3Q7Nc8s2lFzKTVwTOwqbUzxfm564Fmvf_1aFZRePnq55xLBoZyKy0xEI9TckzniGkBYEZ1p/s720/8%20PENSO%20NAS%20ABELHAS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="696" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHueWcg4xKnZORdZsJFc5-IXhb5W9CpJZQywy_s3sq3x08m8ROuhUGDKf7aSI8THrq4POt7CAtzAM9zcPA_qUWCH4yGZpfftLTXKi-Bro6gT8qQmkYh3Q7Nc8s2lFzKTVwTOwqbUzxfm564Fmvf_1aFZRePnq55xLBoZyKy0xEI9TckzniGkBYEZ1p/s320/8%20PENSO%20NAS%20ABELHAS.jpg" width="309" /></a></div><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><p><span style="font-size: 12pt;">Sonho que estou na
cozinha preparando uma vitamina de mamão com aveia e mel.</span></p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Sou um homem urbano,
casado, com filhos, mas no sonho moro no campo, sozinho, numa casa pequena e
agradável, e passo grande parte do meu tempo cuidando de abelhas, que produzem
o mel que eu vendo na cidade e doo a um centro de desintoxicação para
dependentes químicos que fica perto da minha propriedade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Vejo-me trabalhando nas
colmeias, tirando e colocando quadros repletos de favos, verificando a
produção. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Num flash, o cenário muda
e estou conversando com um senhor idoso, que, ao que parece, dirige o centro de
desintoxicação. Vejo alguns dos abrigados circulando pelo pátio, conversando,
fumando, alguns altivos e gritadores, outros cabisbaixos e silenciosos, só
ouvindo. Uma turma está no campo, cuidando da horta, das vacas e cabras. Eles produzem
queijo, que vendem por um bom preço nos mercados da região. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Vejo agora queijos
maturando numa sala climatizada e com azulejos brancos nas paredes, muito
limpa. Um rapaz está lá dentro, observando a produção e tomando notas numa
caderneta. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">De repente estou de novo
conversando com o velho, que me diz frases soltas, como “eles andam descalços
na horta e no curral”, “o caminho que leva à cachoeira é muito estreito”, “à
noite sirvo chá com bolachas”, “gosto de colocar mel na vitamina que faço no
meio da tarde”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">E assim estou de volta à
cozinha da minha casa, preparando uma vitamina de mamão com aveia e mel. Não
consigo sair dali. Preparo a bebida várias vezes, enquanto cenas e imagens
nebulosas se formam na minha cabeça. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Com o som do
liquidificador ao fundo, vejo-me deitado numa cama beliche, no centro de desintoxicação
para dependentes químicos. Sou um paciente (ou abrigado, não sei como se diz),
e é noite, tento dormir, mas não consigo. Sinto uma agitação estranha, uma
inquietação, que me faz mover os pés freneticamente. O lençol se solta das
bordas da cama e meu cobertor cai no chão. Uma mulher de olhos tranquilos me
traz um comprimido, que eu tomo, e em pouco tempo me sinto melhor. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O liquidificador continua
rugindo. Tiro a tampa do copo e coloco mais mel. Gosto com muito mel. Sento-me
numa cadeira e começo a escrever: “As abelhas seguem o caminho que leva à
cachoeira à procura de flores e água. Estão acostumadas a beber água no riacho.”
Paro. Não sei mais o que escrever. Desligo o liquidificador e, finalmente, posso
beber um copo da vitamina. Está deliciosa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Tiro os sapatos, pego uma
agulha, que desinfeto no fogo, cruzo uma das pernas e começo a procurar bichos
de pé. Não vejo nada de anormal. Levanto a outra perna e também não encontro
nada. Não ando descalço em currais e hortas, sou muito cuidadoso. Calço de novo
os sapatos e saio em direção às caixas de abelhas. Elas estão calmas hoje. Não
exigem muito de mim. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Sigo pelo caminho
estreito, cercado de matos, até a cachoeira. Lá tiro meu macacão de trabalhar
com as abelhas, minhas roupas de baixo, e entro no lago formado pela queda
d’água. Está gelado, mas vou até onde não dá mais pé e mergulho fundo. É bom. Sinto-me
rejuvenescer. Sou jovem de novo, cheio de vida, não preciso me preocupar com
nada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Quando acordo, vejo a
imagem da cachoeira se distanciando em névoa, e a realidade cai sobre mim como
uma pedra enorme se soltando de um prédio. Sou velho, feio, cheio de contas
para pagar, mas estou bem, sou forte, vou seguir em frente, até o fim. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Levanto-me da cama e
preparo um chá de camomila, que tomo comendo bolachas de coco. Coloco a bolacha
quase inteira no chá, até amolecer, e ponho tudo na boca. A parte molhada se
dissolve rapidamente, a seca, eu mastigo, sentindo a crocância do biscoito e o
sabor distante do coco. </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: left;">Enquanto como mais
uma bolacha, observando da janela um avião que se distancia no horizonte de
prédios e luzes, penso nas abelhas se alimentando, trabalhando, vivendo, sem
raciocinar, sem se preocupar, simplesmente sendo... </span></p>Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-49230264915177245562022-12-19T12:15:00.002-08:002022-12-19T12:15:49.237-08:00SONHO DE UM HISTORIADOR<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpHOAYZ6yoZEikwdUSTHELqb9lpsaKbpKNnBjtwLdd1y6qW9pgZJHw4OELu05hHZFJhAdCK_5LnYg7HP0P1s7GGGKQ9XCtmdHOzQrdV4d01WRI94LroZnjgiKCU1zTZjO0O8F-Elsyw_mJHnZGP-9SNqLstmKbooROeqCQjwstq9n1un6lQCsIV2fe/s640/7%20SONHO%20DE%20UM%20HISTORIADOR.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="640" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpHOAYZ6yoZEikwdUSTHELqb9lpsaKbpKNnBjtwLdd1y6qW9pgZJHw4OELu05hHZFJhAdCK_5LnYg7HP0P1s7GGGKQ9XCtmdHOzQrdV4d01WRI94LroZnjgiKCU1zTZjO0O8F-Elsyw_mJHnZGP-9SNqLstmKbooROeqCQjwstq9n1un6lQCsIV2fe/s320/7%20SONHO%20DE%20UM%20HISTORIADOR.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Quem foi o homem que há
mais de duzentos anos seguiu por este caminho, margeando o ribeirão, e entrou nesta
casa, carregando um saco de milho ou feijão? Ou talvez levando uma flor, um
crucifixo, ou quem sabe um livro? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Numa casa antiga como
esta, muita coisa aconteceu, e é bem provável que, em seus primórdios, um homem
tenha entrado nela carregando um saco de mantimentos, uma flor, um crucifixo ou
um livro. E tenha conversado com as pessoas lá dentro, almoçado ou jantado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Fico imaginando as pessoas
entrando na casa, cumprimentando-se, comendo, sorrindo, chorando, sentindo as
roupas apertadas ou largas sobre seus corpos, o gosto da comida, o frescor da
água, a quentura e o sabor do café. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Descobrimos num cartório
um documento que diz que, no início do século XX, esta casa tinha vários
cômodos, instalações sanitárias e de luz elétrica, um local de despejo, uma
casa anexa com um moinho de fubá, um rego d’água, açude, um galinheiro coberto
de telhas e cercado com tela de arame, e, fazendo parte da propriedade, um
pomar em bom estado de conservação, uma jazida de pedra sabão e vinte hectares
de terras de vargem e melado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Hoje, preservada, a casa
continua com vários cômodos, mas não sabemos onde era a casa de despejo nem
onde ficavam o moinho, o galinheiro, o pomar e a jazida de pedra sabão (ou
pedra talco, como era conhecida). A investigação só está começando.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Somos três historiadores
e um ilustrador. Vamos escrever um livro ilustrado sobre a história desta casa,
suas terras e seus principais moradores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Sento-me na escada que dá
acesso ao salão principal. Vejo uma mulher negra de pé, perto de uma pedra, a
pouca distância de onde estou, olhando para mim. Seu cabelo está todo
desgrenhado e seu vestido rasgado. Quem é ela? De repente vejo homens a cavalo
chegando. A mulher sai correndo e se embrenha na mata. Os homens vão atrás,
gritando.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Entro na casa. O piso de
madeira antiga faz barulho sob meus pés. Vejo quadros na parede, um sofá azul,
com detalhes barrocos, e um jarro com flores vermelhas aveludadas. As janelas
são grandes e estão abertas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Vou à cozinha, sento-me
numa cadeira, perto de um armário, e começo a folhear um livro com ilustrações
muito antigas da casa. Ouço barulhos de panelas. Uma mulher prepara o almoço: costelinha
de porco, arroz, feijão fradinho, couve e angu. A família chega e se acomoda na
grande mesa da cozinha e, enquanto come, conversa sobre o que cada um fez
durante o dia. Um rapaz diz que seus camaradas de Pitangui vão esperá-lo amanhã
bem cedo na saída do arraial para irem ao Curral Del Rei. Vão comprar iguarias
que não são produzidas ali, para vender em toda a região: roupas, vestidos,
pólvora, metais, queijos e vinhos portugueses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Caminho pelo quintal e
vejo um rego d’água indo em direção a uma casa pequena praticamente emendada à
casa principal. Entro e encontro um moinho de fubá, girando lentamente com a
força da água. Um homem negro, manuseando um instrumento parecido com uma pá,
coloca o fubá em sacos e junta tudo em um canto. Ele trabalha sem parar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Acordo do meu sonho e não
vejo mais ninguém. O moinho desapareceu. A sala e a cozinha estão vazias. Estou
cansado, mas quero ler, pesquisar, escrever, sonhar. Precisamos trabalhar. <o:p></o:p></span></p>Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-50002076934968250512022-12-16T11:23:00.001-08:002022-12-19T06:29:20.786-08:00VIVER NÃO PRECISA SER TÃO COMPLICADO<p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; white-space: pre-wrap;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrNnUdasgsnsSb3b6ViTsQtW-paosyBk1H1Fu0aNR-tEqMUZtFB5w6Q0CAD8lWacB4pXHLWliATs6YIhCLFHPTRQKX3uYau4Xjxq4qlQy5SHHG3xtnwKHqLfM8MeKp9dFDRCYzH_KHLVP51pPuqdPGQaHD3OIRjq77ferns8tIqZUBtwW3n2K9AYzf/s900/6%20VIVER%20N%C3%83O%20PRECISA%20SER%20T%C3%83O%20COMPLICADO.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="672" data-original-width="900" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrNnUdasgsnsSb3b6ViTsQtW-paosyBk1H1Fu0aNR-tEqMUZtFB5w6Q0CAD8lWacB4pXHLWliATs6YIhCLFHPTRQKX3uYau4Xjxq4qlQy5SHHG3xtnwKHqLfM8MeKp9dFDRCYzH_KHLVP51pPuqdPGQaHD3OIRjq77ferns8tIqZUBtwW3n2K9AYzf/s320/6%20VIVER%20N%C3%83O%20PRECISA%20SER%20T%C3%83O%20COMPLICADO.jpg" width="320" /></a></div><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; white-space: pre-wrap;"><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; font-size: medium;">Enquanto escrevo este texto, sinto meu estômago se revirar. É como se eu quisesse vomitar e não chegasse a me sentir tão mal a ponto de fazê-lo. Em qualquer posição que eu fique, a sensação está lá. Some quando resolve sumir, o que pode acontecer em alguns minutos ou horas.</span></p></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; white-space: pre-wrap;">Depois das cinco cirurgias a que fui submetido no intestino e estômago, sinto essa aflição com frequência. Não consigo explicar o que acontece comigo, mas o médico que </span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; white-space: pre-wrap;"><a style="color: #385898; cursor: pointer; font-family: inherit;" tabindex="-1"></a></span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; white-space: pre-wrap;">fez minha última endoscopia disse que está tudo normal, que as cirurgias foram difíceis, muita coisa foi mexida, mas que, fora um mal-estar eventual, dependendo do tipo de alimento que eu ingerir, não haveria mais nada que fugisse da normalidade. Parece que ele falou sobre o processo de esvaziamento do estômago, que pode ter sido afetado pelas cirurgias, mas nada preocupante. Estou bem. Depois do que passei no hospital, esse mal-estar é praticamente nada. Tento analisar tudo dentro de um contexto que engloba o que outras pessoas passam e, principalmente, as dificuldades que enfrentei e superei.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;">Passei por períodos tenebrosos no CTI. Na terceira cirurgia, que corrigiu o que deu errado na primeira e na segunda, acordei numa sala muito iluminada, sentindo dores excruciantes no alto e baixo ventre. Havia pequenas mangueiras saindo de baixo do cobertor que cobria o local da cirurgia, cada uma drenando um líquido diferente. Do meu nariz também saía uma mangueirinha, que escoava uma água escura que vinha do meu estômago. Havia um aparelho ligado ao meu corpo que fornecia todos os meus dados vitais a quem pudesse interessar. As horas passavam lentamente. Entre o vai e vem das técnicas de enfermagem, de vez em quando aparecia um médico, com uma prancheta nas mãos, fazendo anotações. Eu não podia me alimentar pela boca, nem água eu podia tomar, só soro na veia e um tipo de alimentação líquida que era introduzida no meu corpo por uma artéria no pescoço. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;">Na segunda noite no CTI, tive direito a um banho de leito e a um pouco de água nos meus lábios ressecados. Não vou entrar em detalhes sobre o que é um banho de leito. Duas enfermeiras chegaram com os utensílios necessários, mexeram meu corpo de um lado para o outro, esfregando-o com toalhas úmidas, trocaram a roupa de cama e terminaram o serviço. Nessa noite, depois do banho, uma das enfermeiras me trouxe um pouco de água e molhou meus lábios com um paninho. Fazia muito calor. Tanto o banho quanto a água nos lábios me trouxeram um alívio indescritível. Acho que posso chamar o que senti de prazer, ou de uma grande alegria. Eu não pensava na vida fora do hospital. Minha realidade era aquilo: uma cama de CTI, meu corpo ligado a sondas e fios, sentindo sede e dores lancinantes. Não havia previsão de alta. Eu era um paciente de risco. Esse era o meu mundo. Para suportar minha situação, eu não pensava no futuro, só no agora, nos próximos minutos, no máximo nas próximas duas ou três horas.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;">Eu vivia numa bolha, num círculo estreito no qual ganhar alta do hospital era algo muito distante no tempo e no espaço. Nessa bolha, pequenos prazeres, como um banho de leito e um pouco de água nos lábios, eram o suprassumo da alegria. Quando tiraram a sonda do meu nariz, no terceiro dia de CTI, o prazer foi tão grande, que era como se eu tivesse trocado de vida, saído de uma bolha pequena e ganhado mais espaço e mais alegria de viver. No vigésimo dia de internação, já no quarto e tomando banho no banheiro, quando me autorizaram a dieta líquida, fui no céu e voltei. Finalmente, dieta líquida! Depois, tudo foi melhorando rapidamente: dieta leve, dieta liberada, retirada das sondas que saíam da minha barriga, passeios pelo corredor, enfim: a alta já podia ser vislumbrada. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;">Hoje vejo minha vida a partir de uma perspectiva que eu chamo de perspectiva da bolha. Meus limites são bem maiores do que os que eu via a partir da cama do CTI, mas procuro não os ampliar muito, para não me perder em sonhos grandiosos demais e não sentir prazer nas pequenas coisas boas que eu tenho e me acontecem todos os dias. Respiro bem, como bem, tenho meus filhos e esposa perto de mim, posso ler e escrever. Dentro daquela bolha do CTI, o que eu tenho hoje era quase inimaginável. Agora eu tenho. Posso estabelecer objetivos além dos limites da minha bolha atual, mas não preciso de tanto, dá para viver bem assim, como estou, melhorando um pouco de cada vez, aqui e ali, crescendo acolá, e só. Viver não precisa ser tão complicado.</span></span></p>Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-52457529875199825272022-12-15T06:51:00.004-08:002022-12-15T06:55:57.510-08:00OBRAS<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-fck3OZPTNue8vBccM4s6J8VBurXJotFVBtU4SiHeYJa0KJ0Qq9ATz_fKvIq1ii7B9wG5F1eZz4GcLE4D_GFeqH6UXaGeRoCwGX-Bz-lKZw8VtbCudaVhTWvmYnLzeleFjuYbcOfaSs-h_nzeb6RmASELhOSO2Faz25ShVKYw3c7y5s6zuzmGq6-p/s638/5%20OBRAS%202.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="638" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-fck3OZPTNue8vBccM4s6J8VBurXJotFVBtU4SiHeYJa0KJ0Qq9ATz_fKvIq1ii7B9wG5F1eZz4GcLE4D_GFeqH6UXaGeRoCwGX-Bz-lKZw8VtbCudaVhTWvmYnLzeleFjuYbcOfaSs-h_nzeb6RmASELhOSO2Faz25ShVKYw3c7y5s6zuzmGq6-p/s320/5%20OBRAS%202.jpg" width="320" /></a></div><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><p><span style="font-size: 12pt;">Ele mora num bairro
tranquilo, longe do centro, mas ultimamente os vizinhos estão muito atarefados
com as reformas de suas casas, o que provoca um coro de barulhos insuportável.
São três vizinhos com reforma, um na frente, um ao lado e outro no fundo. Pelo
menos não há barulho à noite, depois das sete, o que não adianta muito, porque ele
sofre de insônia e está em desmame do remédio que toma para dormir. Seu
psiquiatra adotou uma estratégia bem conservadora para tirar o remédio: trocar
os comprimidos pela versão em gotas, fazer a correspondência entre a dosagem
diária em comprimido com a dosagem em gotas, e tirar uma gota por semana. Esta
semana ele está em seis gotas e desesperado, porque seu cérebro decidiu não
desligar quando deveria, deixando-o acordado na cama ou perambulando pela casa
até por volta de duas e meia da madrugada, quando finalmente consegue dormir. Mas
ele também não coopera: toma duas ou três xícaras de café depois das dez, fuma
tanto que as paredes do quarto estão todas amarelas e impregnadas com cheiro de
nicotina, ouve música, assiste a jornais e novelas, levanta peso – nada que
facilite o sono. No outro dia, quando sai para trabalhar, está um bagaço,
cansado, desanimado, com os olhos vermelhos, abrindo a boca de cinco em cinco
segundos, o que torna sua jornada no escritório uma verdadeira tortura. </span></p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Ele trabalha de sete da
manhã ao meio-dia, de segunda a sábado, e à tarde escreve contos e crônicas, o
que ultimamente tem sido complicado, por causa do barulho. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Hoje ele resolveu
assistir ao vai e vem dos pedreiros na obra da casa ao lado. Sentou-se na
calçada, fumando um cigarro, e observou o trabalho daqueles que classificou
como serventes, por serem mais jovens e fazerem o serviço mais pesado. O pedreiro
era com certeza o mais velho, que dava ordens e orientava. Estavam construindo
um segundo piso na casa, onde provavelmente seria uma suíte, com janelas
grandes de correr dando para a rua.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Observou tanto os homens
trabalhando, que resolveu escrever um conto sobre eles. Foi para casa e mesmo
com o barulho das obras lhe assaltando a cabeça por todos os lados, escreveu um
texto que lhe agradou muito. De manhã tinha realizado um trabalho que
detestava: fechar folhas de pagamento de funcionários. Na verdade, detestava
tudo que fazia no escritório. Sua recompensa vinha à tarde, quando podia
escrever. Era seu maior prazer. O problema é que, se dependesse de escrever
para sobreviver, certamente morreria de fome. A vida é assim. Há aqueles
sortudos que conseguem amar o que fazem e ganhar bem a vida com isso, e aqueles
que amam fazer coisas que não lhes rendem nem um tostão furado e têm que
trabalhar em serviços que odeiam até se aposentarem, se não morrerem antes. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">É noite. Ele acaba de
comer um talharim ao molho branco e coloca água para ferver para fazer um café.
Acende um cigarro, vai até a sala e se debruça sobre a janela da frente. Vê os
besouros batendo nas luzes dos postes e um gato preto atravessando a rua. Está
tudo silencioso e tranquilo. Vai à cozinha, e enquanto fuma mais um cigarro,
pensa nos dias em que terá todo o tempo livre para escrever, sem insônia, sem
barulho, sem trabalho. Suas obras... <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-879110944828354252022-12-13T14:00:00.000-08:002022-12-13T14:00:26.248-08:00O QUE É LITERATURA?<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf14BdVD5Ae57tfcfv7Nh3jFFICbCsNBVxRP-dEs4R9Vha-uRTxedpshGjTpRf3MuhYLBwLInW-qWojme-SG598a0iH5fRaATXrQhebHd0CnlnqSlyhNR5-dzVQ75wyr0dgGFCdKyNLKK4FOFBqq-KS-P0sFOyeKhK3f-c6D8cbyr7yEF0zNgFK206/s900/4%20O%20QUE%20%C3%89%20LITERATURA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="722" data-original-width="900" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf14BdVD5Ae57tfcfv7Nh3jFFICbCsNBVxRP-dEs4R9Vha-uRTxedpshGjTpRf3MuhYLBwLInW-qWojme-SG598a0iH5fRaATXrQhebHd0CnlnqSlyhNR5-dzVQ75wyr0dgGFCdKyNLKK4FOFBqq-KS-P0sFOyeKhK3f-c6D8cbyr7yEF0zNgFK206/s320/4%20O%20QUE%20%C3%89%20LITERATURA.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Sentei-me para escrever
com a cabeça vazia, sem nenhuma história interessante para contar. Por que essa
ânsia de escrever, de colocar no papel qualquer coisa que eu sinta ou faça?
Terapia, talvez. Escrever é uma necessidade para mim. Se eu não escrevo, não me
tranquilizo, não me refaço para seguir adiante (como é difícil seguir
adiante!). O que eu fiz hoje? Não sei se vai interessar a alguém uma coisa tão
banal, mas quem sabe? Tomei um sorvete com calda de morango e leite condensado
numa sorveteria do centro, minutos após sair do banco, onde recebi um auxílio-doença
referente à minha última cirurgia no abdômen. Que horas eram? Onze da manhã? Um
pouco mais ou menos que isso. O fato é que não eram horas para tomar sorvete,
sem contar que estava chovendo e ventando frio. Não eram horas, não era dia, nem
semana, nem mês, nem ano. Eu não posso me empanturrar de doces enquanto luto
ferrenhamente contra a balança. Ah, essa maldita compulsão alimentar, essa luta
que não tem fim. Como fico livre disso? Toda segunda-feira eu começo uma dieta.
Na terça ou na quarta eu a jogo para o alto comendo um pouco de tudo que
encontro na geladeira. Depois vem a culpa. Antes mesmo de terminar de comer, ela
vem e destrói todo o prazer, toda a alegria de comer e viver. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Estou abafado. Preciso puxar
o ar mais vezes que o normal para me aliviar. Escrever também me alivia, ver as
ideias se concatenando em frases cheias de mim mesmo, do que eu amo ou odeio,
do que me faz bem ou mal. Escrever me dá a sensação de que estou deixando uma
obra, algo mais concreto do que simplesmente trabalhar e ganhar dinheiro para
sustentar os filhos na faculdade, até se formarem e me abandonarem. A obra
literária é para mim um legado. Mesmo que o que eu escreva não seja literatura,
é importante para mim qualquer texto que eu deixar. É uma forma de desobsessão,
de livrar meu ser do que me faz mal, e também de mostrar o que sou, sem medo,
sem autopiedade, me preparando para o fim. Não tenho outra escolha. Escrever,
morrer... <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Escrevo também para
ajudar quem possa um dia ler meus textos, se isso acontecer. Não sei como. Os
escritores me ajudam muito. Lembro-me de quando li, no início dos anos 90, “Ame
e dê vexame”, “Sem tesão não há solução”, “Cleo e Daniel” e “Coiote”, de
Roberto Freire. Esses livros me ajudaram a atravessar a crise da adolescência,
a descobrir a importância do prazer de viver, valorizando meu ser original e
único. Funcionaram para mim como textos sagrados sobre como viver a vida e me
relacionar com os outros, sem explorar ninguém. Por um longo tempo me ajudaram,
até que me vi cercado, encurralado e prensado pelas relações de poder
capitalistas. Muitas daquelas ideias anárquicas e libertárias caíram por terra,
mas continuo sonhando com um mundo mais justo, onde as pessoas possam viver
felizes e realizadas, fazendo o que mais gostam. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Hoje ganhei de presente o
livro “L’Atelier Noir”, de Annie Ernaux. Trata-se de um diário da escritora com
anotações importantes sobre a construção dos seus textos literários. Talvez
essa leitura me estimule ainda mais a escrever, me ensine a organizar as ideias
com mais facilidade, a fazer literatura. Não quero ser simplesmente alguém que
escreve. Quero ser escritor, produzir textos literários. Há uma enorme
diferença entre uma pessoa que escreve bem e outra que faz literatura. Já li
vários textos pretensamente literários que definitivamente não são literatura.
É o que mais tem. Literatura não é rebuscamento, floreios e palavrório difícil
de entender. Nem nada correto demais, de fácil compreensão. Pode até ser tudo
isso, mas não só. Literatura corta, fere, mexe, sacode, incomoda, extasia, toca
fundo e investiga a alma humana. Literatura é beleza, na sua essência mais
profunda, verdades talhadas à faca, ideias em movimento... Não sei explicar
direito. Só sei ler e sentir. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-75319131611540200992022-12-12T14:21:00.002-08:002022-12-12T14:26:26.329-08:00DEPOIS DE AMANHÃ<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbg563MmTJaVSGtZDRfK0Wt7Bp6zNlh6o4h5oIeZJTE97IguTwFsVYIH6UZXvQIRoya4Mw9gfwAQw24DAzOPIIGiqaan5dsFbjVOdnxKbWOynxvBNnzAR6u-2RSIEpYIS2KvWHJxnu_9cDz3KxpiDSSTmE4L6Hi3YLk7-wWlnCJXpqhy776k2PcQGk/s1024/1%20DEPOIS%20DE%20AMANH%C3%83.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="708" data-original-width="1024" height="221" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbg563MmTJaVSGtZDRfK0Wt7Bp6zNlh6o4h5oIeZJTE97IguTwFsVYIH6UZXvQIRoya4Mw9gfwAQw24DAzOPIIGiqaan5dsFbjVOdnxKbWOynxvBNnzAR6u-2RSIEpYIS2KvWHJxnu_9cDz3KxpiDSSTmE4L6Hi3YLk7-wWlnCJXpqhy776k2PcQGk/s320/1%20DEPOIS%20DE%20AMANH%C3%83.jpg" width="320" /></a></div><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt; text-align: justify;"><p><span style="font-size: 11.5pt;">Ele está em seu quarto, fumando e
comendo pedaços de carne de porco com farinha. Sente-se incapaz de se reerguer
e se embrenhar de novo nos comércios, nas trocas incansáveis de um mundo que
avança e não para. Pensa com indiferença nos lugares de espera e solidão, de
dor e quietação: hospitais, clínicas psiquiátricas, asilos, prisões, casas de
morrer – a sua e as de muitos outros –, onde o tempo parece seguir ritmos
diferentes.</span></p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Ele vê a vida como um fluxo intenso
de pessoas e coisas que estão lá fora, do outro lado da porta, do jardim, do
portão, enquanto ele está dentro, olhando por minúsculas frestas nas janelas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Está agora deitado de lado em sua
cama, com dois travesseiros sob a cabeça e um entre as pernas, respirando
ofegante, assustado, tentando se livrar de uma angústia no peito.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Esses três parágrafos foram sua
primeira tentativa de escrever algo minimamente literário em dois anos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Ficaram péssimos, eu sei, mas foram três
parágrafos que ele escreveu com ardor, com sangue, saindo e voltando do
escritório diversas vezes, abrindo e fechando a geladeira, comendo o resto do
marmitex que pediu no almoço, apagando frases inteiras, reescrevendo,
desistindo, voltando atrás, dizendo ‘sou capaz, preciso recomeçar.’ Só ele sabe
como foi difícil.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Estou no escritório. Ele não está
aqui. Está na sala catando guimbas de cigarro e recolhendo o prato onde comeu
um miojo com frango desfiado ontem à noite. Come mal, parou de fazer
exercícios, está sozinho. Quer voltar a fazer as coisas que ama, que sabe fazer
bem, mas não está fácil.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Ele voltou. Vai continuar a escrever.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Lá fora estão os seres viventes, os
que fazem o mundo girar.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">No hospital...</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">No hospital ficou trinta e cinco dias
internado por causa de uma obstrução intestinal grave, que deu muito trabalho
para os médicos e lhe mostrou o quão imprevisível é a vida.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Sonda nasogástrica, jejunostomia,
dreno tubular sentinela, gastrostomia, drenagem de abscessos, prisão de ventre,
lavagem intestinal, toque retal, diarreia, tonteira, desmaios, trocas de
fraldas e muito mais.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Do lado de fora, as horas passavam
que nem loucas desvairadas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">‘Coragem, você consegue’, diz para
si, e se levanta.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Aos poucos sai do quarto, abre a
porta da frente e pisa na grama do jardim.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Sai, como saiu do hospital, mas, por
enquanto, não passa atravessa o portão. Amanhã, talvez, dê uma volta no
quarteirão. Ou depois de amanhã.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif; font-size: 11.5pt;">Flávio Marcus da Silva (1975-)</span></p>Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-79424148103887929372022-12-12T13:41:00.003-08:002022-12-12T13:48:51.919-08:00PRECISO ESCREVER<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMcEd-mRS5xZGFbuZpU3HQbY4pnPJtvgOiagaV3YBhmGWQHcvWZJwo68PZYLbDUXqRLbOaYPUwdOsGXSnY-GCd94NyfF7xb1JGLTKINwPYUEtRtBDZmWHeDJqQOPlAW9nB5dCZPVfYeS-yEsmiJ6_sqzd3w2LNWkDB0cTDMQUXs1P8VS1TZYAi75Qs/s577/3%20PRECISO%20ESCREVER.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="577" height="284" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMcEd-mRS5xZGFbuZpU3HQbY4pnPJtvgOiagaV3YBhmGWQHcvWZJwo68PZYLbDUXqRLbOaYPUwdOsGXSnY-GCd94NyfF7xb1JGLTKINwPYUEtRtBDZmWHeDJqQOPlAW9nB5dCZPVfYeS-yEsmiJ6_sqzd3w2LNWkDB0cTDMQUXs1P8VS1TZYAi75Qs/s320/3%20PRECISO%20ESCREVER.jpg" width="320" /></a></div><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; font-size: 12pt;">Estou sentado na frente do computador, olhando a página que há poucos
segundos estava em branco, mas que agora eu preencho com o que me vem à mente,
sem ordem nem método, sem me preocupar com você, que arriscou iniciar esta
leitura, e que talvez não a termine, mas eu entendo. Meu teclado está sujo, os
espaços entre as teclas estão marrons de poeira misturada com o que
provavelmente sai das mãos do meu filho quando ele fica aqui digitando e
comendo: gordura de carne e batata frita, maionese e molho vermelho.</span></p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Agora imagino meu corpo sendo chacoalhado violentamente dentro de um
avião que atravessa uma zona de turbulência e de repente começa a cair em
direção a não sei que região tenebrosa do nosso país, se selva, pasto ou mar –
não sei, porque está de noite, o ar condicionado está rugindo como um monstro
que nos tritura e engole; sinto frio, tenho medo. Os compartimentos de bagagem
se abrem e diversas coisas caem em nossas cabeças, junto com máscaras de
oxigênio, que tentamos desesperadamente ajustar sobre nossos narizes e bocas.
As luzes se apagam. Vamos morrer!</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Essa cena do avião caindo me veio num lampejo de medo que senti da vida
segundos antes de escrever ‘Agora imagino meu corpo...’. Que medo é esse? Às
vezes penso que minha vida é como um avião caindo ou um navio afundando. No
final a morte chega, inexoravelmente, não adianta gritar, chamar Deus, mãe,
pai, padre ou pastor.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Mas às vezes também penso que esta vida não é só o chacoalhar de um
avião, as coisas caindo em nossas cabeças, falta de ar e desespero. Dependendo
do nosso estado mental, há também o voo tranquilo, em que podemos andar pelos
corredores, ir ao banheiro, ler um livro, assistir a filmes, trabalhar em
nossos notebooks, comer. Tudo são momentos, fases, períodos de paz e
turbulência, e a queda final talvez nem seja tão violenta, mas súbita, sem
aviso, ou tranquila, num processo lento, com cuidados paliativos bem conduzidos
por profissionais capacitados. Há vários modos de morrer. </span><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">O avião em que me encontro não cai. Tudo se acalma, as luzes se acendem,
os comissários começam a circular pelos corredores, ajudando passageiros
feridos e recolhendo coisas espalhadas por todo lado. Foi só uma turbulência. É
assim mesmo. O medo da vida que me levou a escrever sobre o avião foi
passageiro, e é normal ter medo, por um tempo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Estou escrevendo de novo, depois de dois anos de silêncio. As palavras
fluem com facilidade da minha cabeça para a tela do computador, e sinto-me
alegre por isso. Olho o relógio. Não vejo o tempo passar, é muito bom. Lá fora
o céu está nublado, anunciando uma chuva para mais tarde, e assim continua,
enquanto escrevo esta frase, ouvindo os passarinhos, a máquina de lavar, os carros
passando em frente à casa, o chiar da minha cadeira ao me recostar. Agora
sinto-me bem acomodado, mergulhado numa paz que apenas se anunciava quando
acordei hoje de manhã, assustado, pensando: ‘Preciso escrever’. Não dá para
continuar sem fazer as coisas que eu mais gosto: ler, escrever, pesquisar,
estudar, ensinar. Preciso sair do silêncio e me embrenhar de novo na vida em
busca do meu algo a mais. É aos poucos que vou conseguir.</span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Daqui a pouco vou lapidar este texto, retirar palavras e frases que
estão sobrando. Acho que usei muito a palavra ‘medo’. Às vezes tenho pânico
(para não usar medo) da vida entrar em turbulência e eu não dar conta de tanta
confusão, de tantas coisas caindo sobre a minha cabeça, e eu sendo jogado para
lá e para cá. Como vai ser da próxima vez? Sobrevivi a um voo terrivelmente
sacolejante e sombrio que durou cerca de dois anos. Foi difícil, mas sobrevivi,
e agora estou tranquilo de novo, escrevendo. Você chegou até aqui? Obrigado.
Fico feliz.</span></p>
<p><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"> </span> </p>Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-43629626336745204002016-12-14T13:45:00.003-08:002016-12-14T13:45:56.545-08:00Maldade“O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade.”<br />
<br />
<a href="http://www.resilienciamag.com/existem-pessoas-crueis-disfarcadas-de-boas-pessoas/">Maldade</a>Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-34418352935961091552016-12-14T13:30:00.001-08:002016-12-14T13:30:28.797-08:00Luz<div class="_5pbx userContent" data-ft="{"tn":"K"}" id="js_un3">
<div style="text-align: justify;">
"É impossível se calar quando se sente, quando se tem a convicção absoluta de que se poderia ajudar a fazer luz."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fiódor Dostoiévski (1821-1881). <i>Crime e Castigo </i>(1866)</div>
</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-18454347592837719982016-12-14T13:29:00.000-08:002016-12-14T13:29:07.607-08:00Liderança<div style="text-align: justify;">
"Quando um líder toma a decisão de colocar a segurança e as vidas das
pessoas de dentro da organização em primeiro lugar, de sacrificar os
resultados tangíveis para que as pessoas permaneçam, sintam-se seguras e
parte do grupo, coisas extraordinárias acontecem. [...]. Grandes
líderes jamais sacrificariam as pessoas para salvar os números. Eles
sacrificariam os números para salvar as pessoas."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://ed.ted.com/lessons/why-good-leaders-make-you-feel-safe-simon-sinek">Liderança (vídeo)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-5785905081087920802016-12-14T13:26:00.002-08:002016-12-14T13:26:15.379-08:00Children<div class="_5pbx userContent" data-ft="{"tn":"K"}" id="js_sof">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhonRbZ6oOv44GQhhsAvxKUZeI5p7QL8LAcwmhowaJmprUnY24JnZiTy_69yDtX2hwPqonaL2l7RvcOxntlSw3HZRXOuPZSJsNh2WF2KHnQQ5uCboKvoG7B-1Wib8jIAqcBeH_uxiyP-JI/s1600/15241849_1157311740983021_5704957414494612168_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhonRbZ6oOv44GQhhsAvxKUZeI5p7QL8LAcwmhowaJmprUnY24JnZiTy_69yDtX2hwPqonaL2l7RvcOxntlSw3HZRXOuPZSJsNh2WF2KHnQQ5uCboKvoG7B-1Wib8jIAqcBeH_uxiyP-JI/s320/15241849_1157311740983021_5704957414494612168_n.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Accept
the children the way we accept trees — with gratitude, because they are
a blessing — but do not have expectations or desires.You don’t expect
trees to change, you love them as they are.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel Allende (1942-)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"> Photo: Murilo Ganesh</span></div>
</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-27530560651360226932016-12-14T13:23:00.003-08:002016-12-14T13:23:46.886-08:00Mortos<div class="_5pbx userContent" data-ft="{"tn":"K"}" id="js_qxb">
<div style="text-align: justify;">
"Falar
alto no escuro é também uma das grandes violências, é grave, é
desrespeitar a natureza das coisas. Por isso dos mortos nada escutamos
porque morrer é a terra cobrir os corpos, e é denso, um escuro
permanente, sólido, como uma construção negra, mas sem matéria. Não os
ouvimos."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gonçalo M. Tavares (1970-). <i>água, cão, cavalo, cabeça</i>. Editorial Caminho, 2007, p. 54</div>
</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-8363118512580151512016-12-14T13:20:00.003-08:002016-12-14T13:20:45.364-08:00Clube do Livro FAPAM<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe width="320" height="266" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/k92oDreZQys/0.jpg" src="https://www.youtube.com/embed/k92oDreZQys?feature=player_embedded" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div>
<br />Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-75952774651005438612016-12-14T13:18:00.001-08:002016-12-14T13:18:18.997-08:00Rebanhos“Olá, guardador de rebanhos,<br /> Aí à beira da estrada,<br /> Que te diz o vento que passa?<br />
<br />
Que é vento, e que passa,<span class="text_exposed_show"><br /> E que já passou antes,<br /> E que passará depois.<br /> E a ti o que te diz?</span><br />
<span class="text_exposed_show"><br /></span>
<div class="text_exposed_show">
Muita cousa mais do que isso.<br /> Fala-me de muitas outras cousas.<br /> De memórias e de saudades<br /> E de cousas que nunca foram.<br />
<br />
Nunca ouviste passar o vento.<br /> O vento só fala do vento.<br /> O que lhe ouviste foi mentira.<br /> E a mentira está em ti.”<br />
<br />
Fernando Pessoa (1888-1935) do poema “O Guardador de Rebanhos” (1914)</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-38324527854912149282016-12-14T13:16:00.001-08:002016-12-14T13:16:31.374-08:00Depressão espiritual<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1Rs42V1LY5twu4RjDQ89B-5b-maUU82YN7f4QAK1xGeQiKEcZlISq2pLZdWTdwis0F2LbuQHnB5uJ-e-fzWN3fx6-d_SoTsuaACG687AM9scKiaLhaX316joGsWyzwQb6U4YFvoVD0uA/s1600/15230643_1162107953836733_1161077453477897191_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1Rs42V1LY5twu4RjDQ89B-5b-maUU82YN7f4QAK1xGeQiKEcZlISq2pLZdWTdwis0F2LbuQHnB5uJ-e-fzWN3fx6-d_SoTsuaACG687AM9scKiaLhaX316joGsWyzwQb6U4YFvoVD0uA/s320/15230643_1162107953836733_1161077453477897191_n.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Você tem uma classe inteira de rapazes e moças fortes e sólidos, e
eles querem dar suas vidas para alguma coisa. A publicidade faz com que
eles corram atrás de carros e roupas que eles não precisam. Eles
trabalham em profissões que odeiam, por gerações inteiras, unicamente
para poder comprar aquilo que eles verdadeiramente não precisam. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nós não temos uma grande guerra na nossa geração, nem uma grande
depressão, mas sim, no entanto, nós temos uma grande guerra do espírito.
N<span class="text_exposed_show">ós temos uma grande revolução contra a
cultura. A grande depressão, são nossas existências. Nós temos uma
grande depressão espiritual."</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="text_exposed_show"><br /></span></div>
<div class="text_exposed_show">
<div style="text-align: justify;">
Chuck Palahniuk (1962-). <i>Fight Club</i> (1996). Paris: Gallimard, 1999, p. 214-215</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
["Tu as une classe entière de jeunes hommes et femmes forts et solides,
et ils veulent donner leur vie pour quelque chose. La publicité les
fait tous courir après des voitures et des vêtements dont ils n'ont pas
besoin. Ils travaillent dans des métiers qu'ils haïssent, par
générations entières, uniquement pour pouvoir acheter ce dont ils n'ont
pas vraiment besoin. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nous n'avons pas de grande guerre dans
notre génération, ni de grande dépression, mais si, pourtant, nous avons
bien une grande guerre de l'esprit. Nous avons une grande révolution
contre la culture. La grande dépression, c'est nos existences. Nous
avons une grande dépression spirituelle."]</div>
</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-23146604224339810282016-12-14T13:12:00.001-08:002016-12-14T13:12:18.725-08:00Filósofos<div style="text-align: justify;">
"Tenho lido os filósofos. São uns caras realmente estranhos,
engraçados e loucos. Jogadores. Descartes veio e disse: é pura bobagem o
que esses caras estão falando. Disse que a matemática era o modelo da
verdade absoluta e óbvia. Mecanismo. Então, Hume veio com seu ataque à
validade do conhecimento científico causal. E depois veio Kierkegaard:
‘Enfio meu dedo na existência – não tem cheiro de nada. Onde estou?’. E
depois veio Sartre, que sustentava que a existência é absurda.<span class="text_exposed_show">
Adoro esses caras. Embalam o mundo. Será que tinham dor de cabeça por
pensar dessa forma? Será que uma torrente de escuridão rugia entre seus
dentes? Quando você pega homens como esses e os compara aos homens que
vejo caminhando nas ruas ou comendo em cafés ou aparecendo na tela da
TV, a diferença é tão grande que alguma coisa se contorce dentro de mim,
me chutando as tripas.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="text_exposed_show"><br /></span></div>
<div class="text_exposed_show">
<div style="text-align: justify;">
Charles Bukowski (1920-1994). <i>O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio</i></div>
</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-4530213636988547712016-12-14T13:11:00.002-08:002016-12-14T13:11:26.072-08:00Morte em vida<div class="_5pbx userContent" data-ft="{"tn":"K"}" id="js_dij">
<div style="text-align: justify;">
"O
que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não
levam até a sua morte. Não reverenciam suas próprias vidas, mijam em
suas vidas. As pessoas as cagam. Idiotas fodidos. Concentram-se demais
em foder, cinema, dinheiro, família, foder. Suas mentes estão cheias de
algodão. Engolem Deus sem pensar, engolem o país sem pensar. Esquecem
logo como pensar, deixam que os outros pensem por elas. Seus cérebros
estão entupidos de algodão. São feios, falam feio, caminham feio.Toque
para elas a maior música de todos os tempos e elas não conseguem
ouvi-la. A maioria das mortes das pessoas é uma empulhação. Não sobra
nada para morrer."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Charles Bukowski (1920-1994). <i>O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio</i></div>
</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-18743975693122524242016-12-14T13:10:00.000-08:002016-12-14T13:10:17.672-08:00Perda de talentos<div class="_5pbx userContent" data-ft="{"tn":"K"}" id="js_ckh">
<div style="text-align: justify;">
"...você
não mantém as ótimas pessoas em ambientes de trabalho onde a realização
individual é desencorajada ao invés de encorajada. As ótimas pessoas
saem e você acaba com a mediocridade. [...]</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meu modelo de negócio
são os Beatles. Eles equilibravam um ao outro, e o total era maior do
que a soma das partes. É como eu vejo os negócios: grandes coisas em
termos de negócios nunca são feitas por uma pessoa. São feitas por uma
equipe de pessoas". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Steve Jobs (1955-2011)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.administradores.com.br/artigos/carreira/por-que-algumas-empresas-perdem-seus-melhores-colaboradores-e-outras-nao/95584/">Perda de talentos</a></div>
</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-55533553838517795642016-12-14T13:04:00.002-08:002016-12-14T13:04:37.548-08:00As crianças da história<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEig1v5CGivIkbeYTUEtEEB_Keq909tNoyCdcC-VCkm2lPq-P7YhwjphraCgYyEaYR5xBLA4dLYVoxNiicaVMcQ0XU14S56BqkcblVLc-oTgXB3FfK6f3f5ef3yrTeAHIbGLba1Otgoh660/s1600/15541392_1170604872987041_7832894723841495182_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEig1v5CGivIkbeYTUEtEEB_Keq909tNoyCdcC-VCkm2lPq-P7YhwjphraCgYyEaYR5xBLA4dLYVoxNiicaVMcQ0XU14S56BqkcblVLc-oTgXB3FfK6f3f5ef3yrTeAHIbGLba1Otgoh660/s320/15541392_1170604872987041_7832894723841495182_n.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Nós, as pessoas que vocês tentam pisotear, nós somos todos aqueles
de quem vocês dependem. Nós somos os que lavam suas roupas, preparam sua
comida, lhes servem o jantar. Nós arrumamos sua cama. Nós cuidamos de
vocês enquanto vocês dormem. Nós dirigimos as ambulâncias. Nós lhes
passamos suas ligações ao telefone. Nós somos cozinheiros e motoristas
de táxi, e sabemos tudo sobre vocês. Nós cuidamos dos seus pedidos de
indenização às seguradoras e dos seus pagamentos com cartão<span class="text_exposed_show"> de crédito. (...)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="text_exposed_show"><br /></span></div>
<div class="text_exposed_show">
<div style="text-align: justify;">
Nós somos as crianças da história, entre mais velhos e caçulas, criados
pela televisão na convicção de que um dia seremos milionários, vedetes
de cinema, estrelas de rock, mas isso nunca vai acontecer. E nós
simplesmente estamos aprendendo esse pequeno fato, diz Tyler. Então não
brinquem com a gente."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Chuck Palahniuk (1962-). Fight Club (1996). Paris: Gallimard, 1999, p. 235-6</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
["Nous, les gens que vous essayez de piétiner, nous sommes tous ceux
dont vous dépendez. Nous sommes ceux-là même qui vous blanchissent votre
linge, vous préparent votre nourriture, vous servent à dîner. Nous
faisons votre lit. Nous veillons sur vous pendant que vous dormez. Nous
conduisons les ambulances. Nous vous donnons vos correspondants au
téléphone. Nous sommes cuisiniers et chauffeurs de taxi, et nous savons
tout de vous. Nous traitons vos demandes d'indemnisation d'assurance et
vos paiements par carte de crédit. (...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nous sommes les enfants
de l'histoire, entre aînés et cadets, élevés par la télévision dans la
conviction qu'un jour nous serons millionnaires, vedettes de cinéma,
stars du rock, mais cela ne se fera pas. Et nous sommes simplement en
train d'apprendre ce petit fait, dit Tyler. Alors ne déconnez pas avec
nous."]</div>
</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-60795796507670742562016-12-14T13:03:00.000-08:002016-12-14T13:03:01.140-08:00Eu era perfeito demais<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKSyednbZDLEGqxjhQx0XUsT4fYY-Tt6d3nNIVTAcvd0H0_ddpGymMNx606ShGHN6KWXSROHXS8KXTYeHoPoHrOjaTDGWOhVfFMqxIQ5_MPFJrDPrV5DBEICTHx5D2h_Ch6Pq55tDHcaI/s1600/15380525_1170627932984735_4764638955918608060_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="169" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKSyednbZDLEGqxjhQx0XUsT4fYY-Tt6d3nNIVTAcvd0H0_ddpGymMNx606ShGHN6KWXSROHXS8KXTYeHoPoHrOjaTDGWOhVfFMqxIQ5_MPFJrDPrV5DBEICTHx5D2h_Ch6Pq55tDHcaI/s320/15380525_1170627932984735_4764638955918608060_n.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Eu estava cansado, eu estava doido, eu estava sempre sob pressão, e
cada vez que eu entrava num avião eu queria vê-lo se espatifar. Eu tinha
inveja das pessoas que morriam de câncer. Eu odiava a minha vida. Eu
estava cansado a ponto de morrer de tédio por causa do meu emprego e da
minha mobília, e eu não conseguia encontrar uma maneira de mudar as
coisas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Simplesmente como colocar um fim nisso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu me sentia preso numa armadilha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="text_exposed_show">
<div style="text-align: justify;">
Eu era completo demais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu era perfeito demais."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Chuck Palahniuk (1962-). Fight Club (1996). Paris: Gallimard, 1999, p. 245</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
["J'étais fatigué, j'étais dingue, j'étais toujours sous pression, et
chaque fois que je montais à bord d'un avion, je voulais voir l'avion
s'écraser. J'enviais les gens qui se mouraient du cancer. Je haïssais la
vie qui était la mienne. J'étais fatigué à en mourrir d'ennui par mon
boulot et mon mobilier, et je ne parvenais pas à voir la manière de
changer les choses. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Simplement comment y mettre un terme.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Je me sentais pris au piège.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
J'étais trop complet.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
J'étais trop parfait."]</div>
</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-33528634646972371002016-12-14T13:00:00.001-08:002016-12-14T13:00:52.616-08:00Escola da Serra<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/5MnAqjLpdxg/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/5MnAqjLpdxg?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<br />Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-54499452852769619052016-12-14T12:59:00.001-08:002016-12-14T12:59:08.685-08:00Educação na Finlândia<div style="text-align: justify;">
“...eu esperava encontrar muita tecnologia, e não é bem assim. Tem o
básico, um retroprojetor, iPad em algumas aulas. O importante, no
entanto, não é isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É o ensino conectado com a realidade, é a
aprendizagem ser significativa. Uma turma que acompanhei foi visitar um
balé. Aprendeu conceitos de física como inércia e movimento com os
passos de dança, vendo a bailarina rodar no próprio eixo. O professor de
artes falou do contexto do espetáculo e o de história, do enredo. [...<span class="text_exposed_show">]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="text_exposed_show"><br /></span></div>
<div class="text_exposed_show">
<div style="text-align: justify;">
Fiquei na Finlândia dois meses, e, logo nos primeiros dias, me chamou
muito a atenção o fato de o aluno ser prioridade total no processo, pois
é ele próprio quem conduz e gerencia sua aprendizagem. Eles valorizam
menos conteúdos ligados ao programa e mais o acompanhamento de como cada
criança ou adolescente vai identificar e desenvolver suas competências.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desde muito cedo, são observadas as necessidades e deficiências de cada
aluno e elaborados planos individuais de estudos. Assim, todos têm o
suporte necessário para superar possíveis dificuldades. Esse apoio vem
do professor e de uma equipe formada por especialistas da escola que
orienta os estudantes para que eles se tornem autônomos, motivados e
confiantes.”</div>
<br />
<a href="http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38230455">Matéria BBC</a></div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-44364100182755654102016-11-12T10:12:00.004-08:002016-11-12T10:13:11.351-08:00Fight Club<div style="text-align: justify;">
"Tyler diz que estou longe de ter atingido o fundo, por enquanto. E
que se eu não desabar completamente, não posso ser salvo. (...) Eu não
deveria me contentar apenas em abandonar dinheiro, posses e saber. (...)
Eu deveria fugir de toda ideia de progressos pessoais, eu deveria ao
contrário me precipitar depressa rumo ao desastre. Eu não posso mais me
contentar em jogar o jogo sem me arriscar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isto não é um seminário.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Se você perde seu sangue-frio antes de ter atingido o f<span class="text_exposed_show">undo, diz Tyler, você jamais conseguirá verdadeiramente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="text_exposed_show"><br /></span></div>
<div class="text_exposed_show">
<div style="text-align: justify;">
Somente após o desastre é que podemos ressuscitar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Só após termos perdido tudo, diz Tyler, é que somos livres para fazer o que queremos."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Chuck Palahniuk (1962-). Fight Club (1996). Paris: Gallimard, 1999, p. 99</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
["Tyler dit que je suis loin d'avoir atteint le fond, pour l'instant.
Et si je ne dégringole pas complètement, je ne peux pas être sauvé.
(...) Je ne devrais pas juste me contenter d'abandonner argent,
possessions et savoir. (...) Je devrais fuir toute idée de progrès
personnels, je devrais au contraire me précipiter au pas de course vers
le désastre. Je ne peux plus me contenter de jouer le jeu sans prendre
de risques. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ceci n'est pas un séminaire.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Si tu perds ton sang-froid avant d'avoir touché le fond, dit Tyler, tu ne réussiras jamais vraiment. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ce n'est qu'après le désastre que nous pouvons ressusciter. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Ce n'est qu'après avoir tout perdu, dit Tyler, qu'on est libre de faire ce que l'on veut."]</div>
</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1261577566478783784.post-1238971425883019542016-11-12T10:08:00.001-08:002016-11-12T10:08:40.011-08:00Não me abraces<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD42ILNzZSnxUmIfCa0S2TN8H8UOwkCQyQNxy52rkli16EuhvyxUBHoBOqYtHmTwk4DPbo7UTrOiA_Id-39cvor-4dYQ0kJMCV4inj9pw6H6D2itVSJp8ThZIk-D5YLGQfMBPImmGrMU8/s1600/14947463_1126126300768232_7701074172907789185_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD42ILNzZSnxUmIfCa0S2TN8H8UOwkCQyQNxy52rkli16EuhvyxUBHoBOqYtHmTwk4DPbo7UTrOiA_Id-39cvor-4dYQ0kJMCV4inj9pw6H6D2itVSJp8ThZIk-D5YLGQfMBPImmGrMU8/s320/14947463_1126126300768232_7701074172907789185_n.jpg" width="251" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Existe sim, eu juro por Pã e por Dioniso,</div>
<div style="text-align: justify;">
um fogo escondido debaixo das cinzas;</div>
<div style="text-align: justify;">
desconfio de mim. Não me abraces; muitas vezes,</div>
<div style="text-align: justify;">
rio calmo rói o muro pela base."</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="text_exposed_show">
<div style="text-align: justify;">
Calímaco, XII: 139</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Photo: © Kyle • Thompson</div>
</div>
Flávio Marcus da Silvahttp://www.blogger.com/profile/15102160347752689360noreply@blogger.com0