terça-feira, 12 de abril de 2016

Educar para a criatividade

"Muitas empresas, depois de terem selecionado pessoas medíocres, pelo fato de serem dóceis e portanto manobráveis, e depois de terem sufocado todo e qualquer vislumbre de iniciativa por parte delas com um amontoado de procedimentos e controles, sentem agora a necessidade de revitalizar a criatividade e submetem essas mesmas criaturas a pseudoformadores, especialistas no assunto. É como se eu preferisse as mulheres louras, mas me casasse com uma morena e depois a obrigasse a ir ao cabeleireiro oxigenar os cabelos. Esses formadores de criatividade, quase sempre americanos ou franceses, frequentemente desprovidos de qualquer fundamento científico, assim como do conhecimento do resultado de pesquisas sérias, submetem os alunos pagantes, ou melhor, 'bem' pagantes, a exercícios psicofísicos 'fantásticos', uma salada feita de ioga, banalizada, e joguinhos de charadas, palavras-cruzadas e por aí vai. Desconfio instintivamente de todas essas técnicas istriônicas que sabe-se lá onde vão dar e que transformam a criatividade, ou seja, a expressão mais misteriosa e preciosa da espécie humana, numa espécie de gincana.

Educar um jovem ou um executivo para a criatividade hoje significa ajudá-lo a identificar sua vocação autêntica, ensiná-lo a escolher os parceiros adequados, a encontrar ou criar um contexto mais propício à criatividade, a descobrir formas de explorar os vários aspectos do problema que o preocupa, de fazer com que sua mente fique relaxada e de como estimulá-la até que ela dê à luz uma ideia justa."

Domenico De Masi (1938-). O ócio criativo (2000). Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p. 303-4 [Domenico de Masi é um dos mais importantes sociólogos italianos, conhecido pelo conceito de "ócio criativo", título de um dos seus livros mais vendidos no Brasil. É professor de Sociologia na Universidade La Sapienza de Roma, onde atua como diretor da faculdade de Ciências da Comunicação].

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