terça-feira, 12 de abril de 2016

Redução de pessoal

"Todos os executivos já sabem que são supérfluos por ao menos quatro ou cinco horas de cada dia de trabalho. Sabem que dos trinta anos da vida deles que dedicam à empresa, só uns dez ou quinze bastariam. Sabem também que muitos dentre eles são como folhas de uma árvore no outono: basta um computador novo e uma categoria inteira de trabalhadores é liquidada. [...]

As empresas hoje estão sujeitas a contínuas comoções organizacionais: se fundem, terceirizam - como se diz no jargão - escritórios inteiros, vendem ou compram outras empresas. E as pessoas que trabalham nelas vivem à mercê desses terremotos. 

Muitas vezes o funcionário descobre só através dos jornais que a empresa para a qual trabalha está para fazer uma fusão ou um desmembramento. Do disse-me-disse dos corredores acaba sendo informado de que essas operações implicam uma redução de pessoal e que ele, provavelmente, faz parte dos chamados 'excedentes'. Tem início assim o seu longo calvário, feito de temores, esperanças, notícias pela metade, ameaças e bajulações, que frequentemente se conclui com uma aposentadoria precoce: lhe dão o fundo de garantia, que aqui na Itália também chamam de 'escorregão', e se desfazem dele como se fosse uma embalagem descartável. E, assim, um cinquentão que foi educado para concentrar toda a própria identidade no trabalho e na dedicação à empresa - mas indefeso diante de um colosso econômico que é soberano com respeito à sua posição sempre menos sindicalizada e protegida - é precocemente privado de uma coisa e da outra."

Domenico De Masi (1938-). O ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p. 243-4-5

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