"Todos os executivos já sabem que são supérfluos por ao menos quatro
ou cinco horas de cada dia de trabalho. Sabem que dos trinta anos da
vida deles que dedicam à empresa, só uns dez ou quinze bastariam. Sabem
também que muitos dentre eles são como folhas de uma árvore no outono:
basta um computador novo e uma categoria inteira de trabalhadores é
liquidada. [...]
As empresas hoje estão sujeitas a contínuas comoções organizacionais: se fundem, terceirizam - como se diz no jargão - escritórios inteiros, vendem ou compram outras empresas. E as pessoas que trabalham nelas vivem à mercê desses terremotos.
Muitas vezes o funcionário descobre só através dos jornais que a
empresa para a qual trabalha está para fazer uma fusão ou um
desmembramento. Do disse-me-disse dos corredores acaba sendo informado
de que essas operações implicam uma redução de pessoal e que ele,
provavelmente, faz parte dos chamados 'excedentes'. Tem início assim o
seu longo calvário, feito de temores, esperanças, notícias pela metade,
ameaças e bajulações, que frequentemente se conclui com uma
aposentadoria precoce: lhe dão o fundo de garantia, que aqui na Itália
também chamam de 'escorregão', e se desfazem dele como se fosse uma
embalagem descartável. E, assim, um cinquentão que foi educado para
concentrar toda a própria identidade no trabalho e na dedicação à
empresa - mas indefeso diante de um colosso econômico que é soberano com
respeito à sua posição sempre menos sindicalizada e protegida - é
precocemente privado de uma coisa e da outra."
Domenico De Masi (1938-). O ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p. 243-4-5
Domenico De Masi (1938-). O ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p. 243-4-5
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