"Minha mulher, que o senhor sabe, zela por mim: muito reza. Ela é uma
abençoável. Compadre meu Quelemém sempre diz que eu posso aquietar meu
temer de consciência, que sendo bem-assistido, terríveis bons-espíritos
me protegem. Ipe! Com gosto... Como é de são efeito, ajudo com meu
querer acreditar. Mas nem sempre posso. O senhor saiba: eu toda a minha
vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo.
Divêrjo de todo o mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de
muita coisa. O senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão
mestre – o senhor solte em minha frente uma ideia ligeira, e eu rastreio
essa por fundo de todos os matos, amém!"
João Guimarães Rosa (1908-1967). Grande Sertão: Veredas (1956). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 31
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