"Se hoje eu me pergunto por que amo a literatura, a resposta, que de
forma espontânea vem à minha cabeça é: porque me ajuda a viver. Já não
lhe peço, como na adolescência, que me evite as feridas que poderia
sofrer nos meus contatos com pessoas reais. Mais que excluir as
experiências vividas, me permite descobrir mundos que situam-se em
continuidade com elas e entendê-las melhor. Creio que sou o único que a
vê assim. A literatura, mais densa e eloquente que a vida cotidiana, mas
não radicalmente diferente, amplia o nosso universo, nos convida a
imaginar outras maneiras de concebê-lo e de organizá-lo. Todos nos
conformamos a partir do que nos oferecem as outras pessoas: a princípio
nossos pais, depois os que nos rodeiam. A literatura abre até o infinito
esta possibilidade de interação com os outros, portanto, nos enriquece
infinitamente. Nos oferece sensações insubstituíveis que fazem que o
mundo real tenha mais sentido e seja mais belo. Não é só um simples
divertimento, uma distração reservada às pessoas mais cultas, senão,
permite que todos respondamos melhor a nossa vocação de seres humanos."
Tzvetan Todorov (1939-) La literatura en peligro (tradução: Fernanda Jiménez), p.17
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