segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A literatura em perigo



"Se hoje eu me pergunto por que amo a literatura, a resposta, que de forma espontânea vem à minha cabeça é: porque me ajuda a viver. Já não lhe peço, como na adolescência, que me evite as feridas que poderia sofrer nos meus contatos com pessoas reais. Mais que excluir as experiências vividas, me permite descobrir mundos que situam-se em continuidade com elas e entendê-las melhor. Creio que sou o único que a vê assim. A literatura, mais densa e eloquente que a vida cotidiana, mas não radicalmente diferente, amplia o nosso universo, nos convida a imaginar outras maneiras de concebê-lo e de organizá-lo. Todos nos conformamos a partir do que nos oferecem as outras pessoas: a princípio nossos pais, depois os que nos rodeiam. A literatura abre até o infinito esta possibilidade de interação com os outros, portanto, nos enriquece infinitamente. Nos oferece sensações insubstituíveis que fazem que o mundo real tenha mais sentido e seja mais belo. Não é só um simples divertimento, uma distração reservada às pessoas mais cultas, senão, permite que todos respondamos melhor a nossa vocação de seres humanos."

Tzvetan Todorov (1939-) La literatura en peligro (tradução: Fernanda Jiménez), p.17

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