sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O Natal em Santa Teresa

"O último caso de 1997 foi bem parecido com o penúltimo, só que em vez do saco plástico com o cadáver no extremo oeste da cidade, o saco foi encontrado no extremo leste, na estrada de terra que corre, digamos, paralela à linha fronteiriça que depois se bifurca e se perde ao chegar às primeiras montanhas e aos primeiros desfiladeiros. A vítima, segundo os legistas, estava morta havia muito tempo. De aproximadamente dezoito anos de idade, media entre um metro e cinquenta e oito e um metro e sessenta. O corpo estava nu, mas dentro do saco foram encontrados um par de sapatos de salto alto, de couro, de boa qualidade, pelo que se pensou que podia se tratar de uma puta. Também foi encontrada uma calcinha branca, tipo tanga. Tanto este caso como o anterior foram encerrados após três dias de investigações nem um pouco entusiasmadas. O Natal em Santa Teresa foi comemorado como de costume. Montaram presépios, estouraram piñatas, tomaram tequila e cerveja. Até nas ruas mais humildes ouvia-se gente rindo. Algumas dessas ruas eram totalmente escuras, parecendo buracos negros, e os risos que saíam não se sabe de onde eram o único sinal, a única informação que os vizinhos e os estranhos tinham para não se perderem."

Roberto Bolaño (1953-2003). 2666. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 603

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