"O último caso de 1997 foi bem parecido com o penúltimo, só que em
vez do saco plástico com o cadáver no extremo oeste da cidade, o saco
foi encontrado no extremo leste, na estrada de terra que corre, digamos,
paralela à linha fronteiriça que depois se bifurca e se perde ao chegar
às primeiras montanhas e aos primeiros desfiladeiros. A vítima, segundo
os legistas, estava morta havia muito tempo. De aproximadamente dezoito
anos de idade, media entre um metro e cinquenta e oito
e um metro e sessenta. O corpo estava nu, mas dentro do saco foram
encontrados um par de sapatos de salto alto, de couro, de boa qualidade,
pelo que se pensou que podia se tratar de uma puta. Também foi
encontrada uma calcinha branca, tipo tanga. Tanto este caso como o
anterior foram encerrados após três dias de investigações nem um pouco
entusiasmadas. O Natal em Santa Teresa foi comemorado como de costume.
Montaram presépios, estouraram piñatas, tomaram tequila e cerveja. Até
nas ruas mais humildes ouvia-se gente rindo. Algumas dessas ruas eram
totalmente escuras, parecendo buracos negros, e os risos que saíam não
se sabe de onde eram o único sinal, a única informação que os vizinhos e
os estranhos tinham para não se perderem."
Roberto Bolaño (1953-2003). 2666. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 603
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