"Ao
cabo de uma semana Imma ainda não havia voltado. Lola a imaginou
pequenina, de olhar impávido, um rosto de camponesa culta ou de
professora secundária aparecendo num vasto campo pré-histórico, uma
mulher de quase cinquenta anos vestida de preto percorrendo sem olhar
para os lados, sem olhar para trás, um vale em que ainda era possível
discernir as marcas dos grandes predadores das marcas dos herbívoros.
Imaginou-a detida numa encruzilhada enquanto os caminhões de transporte
de grande tonelagem passavam a seu lado sem diminuir a velocidade,
levantando poeiradas que não a tocavam, como se sua indecisão e seu
desamparo constituíssem um estado de graça, uma redoma que a protegia
das inclemências da sorte, da natureza e de seus semelhantes."
Roberto Bolaño (1953-2003). 2666. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 177-8
Roberto Bolaño (1953-2003). 2666. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 177-8
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