quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Imma

"Ao cabo de uma semana Imma ainda não havia voltado. Lola a imaginou pequenina, de olhar impávido, um rosto de camponesa culta ou de professora secundária aparecendo num vasto campo pré-histórico, uma mulher de quase cinquenta anos vestida de preto percorrendo sem olhar para os lados, sem olhar para trás, um vale em que ainda era possível discernir as marcas dos grandes predadores das marcas dos herbívoros. Imaginou-a detida numa encruzilhada enquanto os caminhões de transporte de grande tonelagem passavam a seu lado sem diminuir a velocidade, levantando poeiradas que não a tocavam, como se sua indecisão e seu desamparo constituíssem um estado de graça, uma redoma que a protegia das inclemências da sorte, da natureza e de seus semelhantes."

Roberto Bolaño (1953-2003). 2666. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 177-8

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