"Haas gostava de sentar no chão, encostado na parede, na parte
sombreada do pátio. E gostava de pensar. Gostava de pensar que Deus não
existia. Uns três minutos, no mínimo. Também gostava de pensar na
insignificância dos seres humanos. Cinco minutos. Se não existisse a
dor, pensava, seríamos perfeitos. Insignificantes e alheios à dor.
Perfeitos, caralho. Mas lá estava a dor para foder com tudo. Por fim
pensava no luxo. O luxo de ter memória, o luxo de saber um idioma ou
vários idiomas, o luxo de pensar e não sair correndo."
Roberto Bolaño (1953-2003). 2666. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 536
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