segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Um jovem escritor



"Quando eu era jovem, era um escritor que passava fome. O fato de que a fome poderia me levar à morte não me incomodava muito, uma vez que a vida não me parecia interessante, e morrer não parecia uma má perspectiva — talvez uma nova embaralhada nas cartas? Laborei, de tempos em tempos, como um trabalhador comum, mas por curtos períodos. Um ou dois contracheques e eu pulava fora, mantendo-me afastado de empregos o quanto fosse possível. Tudo o que eu precisava era de dinheiro para o aluguel e para comprar bebidas, e também para os selos, os envelopes e uma máquina de escrever. Escrevia de dois a seis contos por semana e todos eram recusados pela Atlantic Monthly, Harper's e The New Yorker. Para mim isso era difícil de entender porque os contos que eu lia nessas revistas eram escritos com cuidado, 'bem-trabalhados' talvez fosse o termo. Mas, em essência, os contos era inermes e chatos, e o pior de tudo: não tinham humor. Era como se tudo não passasse de uma mentira e quanto mais trabalhada fosse essa mentira mais você era aceito."

Charles Bukowski (1920-1994). Pedaços de um caderno manchado de vinho. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 274

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