sábado, 11 de janeiro de 2014

Alegria



"A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida — e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom — como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar-se inundar pela alegria aos poucos — pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós."

Clarice Lispector (1920-1977). A descoberta do mundo (crônicas, 1967-1973). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 227

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