terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A sentinela



"A sentinela cochilava encostada ao fuzil. Serviço pau. Um pobre homem dormindo em pé. Acordava, escancarava a boca, via com tédio as grades do jardim, o hall deserto, a escada ao fundo, vermelha. O tapete vermelho da escada me dava impressão desagradável. Podia ser de outra cor. As luzes do farol mudavam de minuto a minuto, branca, vermelha, branca, vermelha. Por que não aparecia uma terceira cor? Aquilo era irritante, mas o farol me atraía. Pelo menos variava mais que a sentinela, tinha mais vida que a sentinela."

Graciliano Ramos (1892-1953). Angústia (1936). 29ª ed. São Paulo: Record, 1984. p. 117

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