domingo, 30 de novembro de 2008

Dois velhinhos

Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo.

Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia olhar lá fora.

Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anunciava o primeiro:

— Um cachorro ergue a perninha no poste.

Mais tarde:

— Uma menina de vestido branco pulando corda.

Ou ainda:

— Agora é um enterro de luxo.

Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela.

Não dormiu, antegozando a manhã. Bem desconfiava que o outro não revelava tudo.

Cochilou um instante — era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo.

Dalton Trevisan

Texto extraído do livro "Mistérios de Curitiba", Editora Record — Rio de Janeiro, 1979, pág. 110.

sábado, 29 de novembro de 2008

Scream, run and invent

If you have no voice,
SCREAM;

If you have no legs,
RUN;

If you have no hope,
INVENT



Chamada na abertura do DVD

ALEGRIA
,
Cirque du Soleil

Viúva na praia

Ivo viu a uva; eu vi a viúva. Ia passando na praia, vi a viúva, a viúva na praia me fascinou. Deitei-me na areia, fiquei a contemplar a viúva.

0 enterro passara sob a minha janela; o morto eu o conhecera vagamente; no café da esquina. A gente se cumprimentava às vezes, murmurando "bom dia"; era um homem forte, de cara vermelha; as poucas vezes que o encontrei com a mulher ele não me cumprimentou, fazia que não me via; e eu também. Lembro-me de que uma vez perguntei as horas ao garçom, e foi aquele homem que respondeu; agradeci; este foi nosso maior diálogo. Só ia à praia aos domingos, mas ia de carro, um "Citroen", com a mulher, o filho e a barraca, para outra praia mais longe. A mulher ia às vezes à praia com o menino, em frente à minha esquina, mas só no verão. Eu passava de longe; sabia quem era, que era casada, que talvez me conhecesse de vista; eu não a olhava de frente.

A morte do homem foi comentada no café; eu soube, assim, que ele passara muitos meses doente, sofrera muito, morrera muito magro e sem cor. Eu não dera por sua falta, nem soubera de sua doença.

E agora estou deitado na areia, vendo a sua viúva. Deve uma viúva vir à praia? Nossa praia não é nenhuma festa; tem pouca gente; além disso, vamos supor que ela precise trazer o menino, pois nunca a vi sozinha na praia. E seu maiô é preto. Não que o tenha comprado por luto; já era preto. E ela tem, como sempre, um ar decente; não olha para ninguém, a não ser para o menino, que deve ter uns dois anos.

Se eu fosse casado, e morresse, gostaria de saber que alguns dias depois minha viúva iria à praia com meu filho — foi isso o que pensei, vendo a viúva. É bem bonita, a viúva. Não é dessas que chamam a atenção; é discreta, de curvas discretas, mas certas. Imagino que deve ter 27 anos; talvez menos, talvez mais, até 30. Os cabelos são bem negros; os olhos são um pouco amendoados, o nariz direito, a boca um pouco dentucinha, só um pouco; a linha do queixo muito nítida.

Ergueu-se, porque, contra suas ordens, o garoto voltou a entrar n'água. Se eu fosse casado, e morresse, talvez ficasse um pouco ressentido ao pensar que, alguns dias depois, um homem — um estranho, que mal conheço de vista, do café — estaria olhando o corpo de minha mulher na praia. Mesmo que olhasse sem impertinência, antes de maneira discreta, como que distraído.

Mas eu não morri; e eu sou o outro homem. E a idéia de que o defunto ficaria ressentido se acaso imaginasse que eu estaria aqui a reparar no corpo de sua viúva, essa idéia me faz achá-lo um tolo, embora, a rigor, eu não possa lhe imputar essa idéia, que é minha. Eu estou vivo, e isso me dá uma grande superioridade sobre ele.

Vivo! Vivo como esse menino que ri, jogando água no corpo da mãe que vai buscá-lo. Vivo como essa mulher que pisa a espuma e agora traz ao colo o garoto já bem crescido. 0 esforço faz-lhe tensos os músculos dos braços e das coxas; é bela assim, marchando com a sua carga querida.

Agora o garoto fica brincando junto à barraca e é ela que vai dar um mergulho rápido, para se limpar da areia. Volta. Não, a viúva não está de luto, a viúva está brilhando de sol, está vestida de água e de luz. Respira fundo o vento do mar, tão diferente daquele ar triste do quarto fechado do doente, em que viveu meses. Vendo seu homem se finar; vendo-o decair de sua glória de homem fortão de cara vermelha e de seu império de homem da mulher e pai do filho, vendo-o fraco e lamentável, impertinente e lamurioso como um menino, às vezes até ridículo, às vezes até nojento...

Ah, não quero pensar nisso. Respiro também profundamente o ar limpo e livre. Ondas espoucam ao sol. O sol brilha nos cabelos e na curva de ombro da viúva. Ela está sentada, quieta, séria, uma perna estendida, outra em ângulo. 0 sol brilha também em seu joelho. O sol ama a viúva. Eu vejo a viúva.

Rubem Braga (Rio, setembro, 1958)


Texto extraído do livro “Ai de ti, Copacabana”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1960, pág. 129.

Meu ideal seria escrever...

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

Rubem Braga.
A traição das elegantes, Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1967, pág. 91.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Veja esta dama

Caio cedo da cama
todos os dias (tenho
de cumprir a pena
dos três paus a troco
de sal) e uma vez que a
janela está aberta,
aproveito meus cinco
minutos que sobram,
fumando. Sem falta,
no último trago, ela
aparece na esquina
com a compra da feira
feita pra si. Lenta,
posso espiar com calma
sua venustidade: o
coque como sempre
espontâneo, sem espelho; a
clavícula e os quadris que
salientes adornam
sua silhueta sob o
vestido; e um vestígio
de pele que surge
de um passo a outro. Quando
mais perto, nos olhos
baços descubro onde
guarda sua beleza
de agora. Ah, se eu fosse
trinta anos mais velho.

Do peitoril lanço a
ponta na calçada
que queima até a cinza.

Paulo Ferraz - Poemas avulsos

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Sozinho


Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

Fernando Pessoa (08/03/1914)

As Brumas de Avalon

Morgana fala:
Na primeira luz do sol nascente, vi Lancelote levantar a Excalibur em suas mãos e atirá-la tão longe quanto pôde. Voou no ar, caiu, rodopiando, e eu não vi mais nada; meus olhos estavam enevoados com as lágrimas e o brilho da luz.
Então, ouvi Lancelote: - Eu vi uma mão elevando-se do lago - uma mão que segurou a espada, e brandiu-a três vezes no ar, e depois submergiu...
Eu nada percebera, apenas o brilho da luz em um peixe que aparecera na superfície do lago, mas não duvido que ele tenha visto o que disse que viu.
- Morgana - murmurou Artur -, é você realmente? Não posso vê-la, Morgana, está tão escuro aqui... o sol está se pondo? Morgana, leve-me para Avalon, onde pode curar minha ferida... leve-me para casa, Morgana...
Sua cabeça pesava em meu peito, pesada como a criança em meus próprios braços infantis, pesada como o Gamo-Rei que viera para mim triunfante. - Morgana - minha mãe chamara, impaciente -, tome conta do bebê... e toda a minha vida eu o carregara comigo. Segurei-o junto a mim e limpei as lágrimas de seu rosto com o meu véu, e ele estendeu a mão e segurou a minha.
- Mas é você realmente, é você, Morgana... Voltou para mim... e está tão jovem e bela... sempre verei a Deusa em seu rosto... Morgana, você não me deixará de novo, não é?
- Nunca mais o deixarei, meu irmão, meu bebê, meu amor - eu lhe sussurrei, e beijei seus olhos. E ele morreu logo que a bruma se levantou e o sol raiou sobre as praias de Avalon.

As Brumas de Avalon (Marion Zimmer Bradley, 1982)

sábado, 15 de novembro de 2008

Le goût de l'archive

Rodrigo est en train d’écrire sa dissertation. Il fait des recherches dans une bibliothèque privée à Bom Sucesso - MG. Il n’est pas directement intéressé aux livres, mais à la personne qui les possédait. C’était un ancien professeur qui habitait la petite ville au début du XXe siècle, apparemment coupé du reste du monde, mais qui, pourtant, était possésseur d’une bibliothèque de plus de 3000 volumes. Il est mort au début des années 50 et aujourd’hui sa bibliothèque est fermée, presque oubliée. Je ne sais pas si j’aurai autant des livres comme ce professeur, mais j’espère vraiment qu’ils seront lus par quelqu’un de ma famille, ou par quelqu’un d’autre qui les gardera avec amour et qui les disposera de façon qu’ils puissent être vus par d’autres personnes; enfin, je veux que mes livres soient lus et que ceux qui les liront sachent qu’un jour ils ont appartenu à un historien qui aimait beaucoup les oeuvres littéraires et historiques et qui avait beaucoup travaillé sur celles qui seront devant leurs yeux. Je ne veux pas que mon travail soit oublié. C’est pour ça que je laisse des écrits historiques, des livres, des notes de recherche, des fiches, des documents transcrits. Je ne veux pas non plus que ma vie privée soit quelque chose de complètement mystérieux. C’est pour ça que je laisse des informations sur moi, des traces qui indiquent un chemin à ceux qui peut-être auront envie de savoir qui j’étais, des photos, des écrits, des lettres. Il faut que j’organise mon petit archive personnel.

Belo Horizonte, le 15 août, 2000

Le Comte de Monte-Cristo

Je suis en train de lire un livre fascinant: Le Comte de Monte-Cristo, d’Alexandre Dumas. J’adore cet auteur. Il sait vraiment comment raconter une histoire, et la langue française y est très valorisée. J’ai encore une longue route à parcourir, parce que je suis à la page 164, pendant que le livre a presque 1500 pages. Tant mieux. Je serais même plus heureux si l’histoire pourrait continuer pour toujours, des volumes et des volumes, sans arrêt.

Belo Horizonte, le 09 mai, 2000

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Je ne me decide pas

Aujourd’hui je suis allé au Archive Publique. J’y ai rencontré Ivana. Elle lisait un document du XVIIIe siècle. Elle était pressée parce qu’elle n’avait pas beaucoup de temps. Il faisait chaud. J’avais un masque, mais l’allergie m’a prise quand même. Demain j’espère qu’elle me laissera en paix avec mes morts, parce que pour les écouter, il faut oublier le monde dans lequel nous vivons et se plonger dans le passé. Il fait très chaud maintenant. Je suis dans ma chambre, tout seul, la sueur coule sur mon dos. Je pense au livre que je vais lire demain pendant mon work-out. Lequel? Le Comte de Monte-Cristo? La vida exagerada de Martín Romaña? Unnatural causes? Je ne me decide pas. Tous les trois sont très bons. Ils sont là, empillés les uns sur les autres et je les regarde maintenant. Je dors. Bonne nuit.

Belo Horizonte, le 04 octobre, 2000

Unnatural causes

J’ai fini avec Unnatural causes. P. D. James is really fantastic. Je suis au comble de ma joie parce que j’ai encore 12 livres à lire de cet auteur. Mais il ne faut pas oublier que je suis en train d’écrire une thèse et que je ne peux pas me plonger dans la littérature de mystère avec trop de fureur et de folie. J’écris une thèse, voilà! Ce n’est plus une dissertation; c’est une thèse, et ça me fait peur. Pourtant, c’est amusant. C’est comme si j’étais aussi un détective en train de faire une investigation sur quelque crime passé. J’éssaie de réunir les indices dans des petits cadres d’intelligibilité, pour qu’après je puisse réunir tous ces cadres dans des cadres plus grands, pour avoir les chapitres et, après, la thèse. C’est un processus très compliqué mais qui n’est pas impossible de se concrétiser si vous avez une organisation rigoureuse. Je suis très rigoureux avec mon travail. Je crois même que je suis trop rigoureux, presque fou. Demain je vais au Archive, mais après je vais au cinéma. Il faut voir Celebrity de Woody Allen. J’adore ce metteur-en-scène [ou directeur, je ne sais pas]. Je m’identifie un peu avec ses personnages. Ils sont presque toujours liés au monde de la littérature, du cinéma, de la télévision; ils ont des problèmes amoureux, des crises d’identité; ils ne savent pas quel est le sens de la vie, pourquoi nous sommes ici dans ce monde; ils ont peur de mourrir, de ne plus exister; enfin, c’est moi. Pourtant je n’ai pas des problèmes amoureux. Nous sommes très bien, Maisa et moi. I’m very happy with her. She’s a loving person, sweet, adorable; she’s a princess and at this very moment I’d like to be in her arms, kissing her...

“Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro, e o pensamento lá em você, pois sem você eu não vivo; um dia triste, toda a fragilidade incide, e o pensamento lá em você, e tudo me divide [...] espero com a força do pensamento recriar a luz que me trará você.”(Djavan).

Belo Horizonte, le 25 octobre, 2000

Pará de Minas

Estamos aqui hoje, nesta grandiosa solenidade, comemorando os 149 anos de emancipação político-administrativa de Pará de Minas: momento importante na história do nosso município, em que a Câmara e a Prefeitura Municipal outorgam a alguns de seus cidadãos o Título de Cidadania e o Diploma de Honra ao Mérito, registrando, para a posteridade, a contribuição de cada um desses honrados escolhidos na construção de uma Pará de Minas melhor para todos.

É com muita alegria que me dirijo às autoridades aqui presentes, responsáveis por essa solenidade, e agradeço, em nome dos meus colegas (apaixonados, como eu, por essa cidade maravilhosa), essa importante homenagem que nos é prestada.

A nossa responsabilidade é muito grande, pois entendo que, através de nós, esse reconhecimento público dos poderes legislativo e executivo do nosso município se estende a todos aqueles que, de diversas formas, deram a sua contribuição ao crescimento de Pará de Minas: professores, empresárias e empresários, cozinheiros e cozinheiras, donas e donos de casa, profissionais liberais, agricultores, pecuaristas (...): a lista é extensa; mas não existe nela, tenho certeza, uma hierarquia baseada em títulos, riqueza e poder. Todos somos importantes, pois seguimos, juntos, pelo mesmo rio da História; um rio que, segundo o célebre historiador austríaco Ernst Gombrich, possui ondas ruidosas como as ondas do mar: “O vento é forte, a crista das ondas é coberta de espuma. Ao ritmo das ondas, gotículas sobem à superfície e depois desaparecem. A crista da onda as carrega por um instante, depois elas voltam a cair, como engolidas, e desaparecem. Cada um de nós não é nada mais do que essa gota cintilante, minúscula, sobre as ondas do tempo que correm debaixo de nós para mergulhar na névoa indefinível do futuro. Nós emergimos da água, olhamos à nossa volta e, antes mesmo de percebermos, já desaparecemos. É impossível nos ver no grande rio do Tempo. Constantemente novas gotas vêm à tona. E o que chamamos de nosso destino nada mais é do que nossa luta no meio dessa multidão de gotas, o tempo de um simples subir e descer da onda. Esse instante é breve, mas queremos aproveitá-lo. Vale a pena”.

Cabe a nós, durante esse breve instante que é a vida, escolhermos como melhor aproveitá-la. Cada um é livre para fazer a escolha que quiser, mas acredito que fazer o bem é como jogar uma pedra em um rio: as ondas circulares que se formam à flor da água representam a energia positiva que atinge a todos que nos cercam, e que acaba sempre voltando a nós, aos nossos familiares e amigos, mais cedo ou mais tarde.

Por isso, acredito que, se hoje estamos aqui, recebendo essa bela homenagem, é porque plantamos alguma coisa de bom para a nossa Pará de Minas.

Em nome de meus colegas, presentes nesta solenidade, e de todas as pessoas que aqui, nesta terra querida, cultivaram o bem, o meu muito obrigado a Pará de Minas - e parabéns, pelos seus 149 anos.

Flávio Marcus da Silva - Setembro/2008

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Diamante de sangue

Filme excelente sobre a história recente de Serra Leoa, assolada pela guerra civil e pelo contrabando de diamantes.

domingo, 9 de novembro de 2008

Michel Foucault e Noam Chomsky

Encontro histórico: Michel Foucault e Noam Chomsky discutem a natureza do Poder.
Excelente!

Clique aqui e veja um trecho da discussão

Living in Danger (Ace of Base)


Live for yourself, it’s a wonderful thing
You can do what you want, you can live in a dream
Get up, get in, get the rhythm, get down

You’re living your life in peace and in harmony
You making your own decisions
That’s how it’s got to be for you and me
So many people are running around and ‘round
Without any sense of logic

I see lies
In the eyes of a stranger
Woah
You’ll be living in danger
In the eyes of a stranger
Woah
You’ll be living in danger
In the eyes of a stranger
Woah
You’ll be living in danger

People are the same today as they used to be
The same expectations
So high no one can reach that high
Not I nor you get satisfied today
We’ll never get enough

I see lies
In the eyes of a stranger...

Veja o clipe e ouça a música

sábado, 8 de novembro de 2008

A coleira do cão

Havia muitas pessoas em volta do ônibus. As duas RP paradas ao lado. Um guarda estava na porta do ônibus. “É o delegado”, avisou Washington. O guarda deu passagem para Vilela. Vilela entrou. “Lá no fundo, doutor”, disse o guarda. Da entrada do ônibus Vilela nada via. Caminhou em direção à porta traseira. Abandonados, em vários bancos, um sapato, uma saca de feira com legumes aparecendo, um jornal, um guarda-chuva. No último banco, encolhido no fundo, braços e pernas dobrados, comprimidos contra o chão, a cabeça enfiada debaixo do banco, estava o corpo de um homem. Atrás de si, Vilela ouviu o chiado de Washington. “Ele tentou ficar pequenino, se enfiar debaixo do banco para ver se escapava, mas não conseguiu. Já vi um sujeito de um metro e oitenta se enfiar num desses nichos de medidor de gás, uma coisa incrível, se dobrou todo, ficou do tamanho de um gato. Mas não adiantou nada, foi estourado lá dentro mesmo. Foi um custo tirar ele do buraco.”

Havia marcas de bala por todos os lados.

Rubem Fonseca. A Coleira do cão (contos)

Margot e o casamento


Filme brilhante!

La vida exagerada de Martín Romaña

"Ella me amaba y yo no veía las horas de que se decidiera a casarse conmigo. Había conseguido un trabajo de profesor de castellano en una escuelita infame, soportaba los abusos de la infame directora, ya no había más giros de mi padre, concretaba mi sueño de ser escritor, tecleando en el techo de un edifício, en un cuartucho de noveno piso sin ascensor, en fin, todo parecía indicar que estaba a la altura de un matrimonio con Inés. Pero hubo que esperar. Claro, todos pensarán que yo con mis locuras fui el causante de tanta espera. Yo mismo lo creía. Y me imagino que en parte es cierto, además, aunque a mí nunca se me ocurrió que había que reflexionar tanto. Inés, en cambio, me contó un día, al regresar con su madre de un viaje por España, que se había otorgado un verano entero de reflexión, y que aquel muchacho brasileño que creí su compañero de estudios había estado a punto de ganar la partida. No me importó el descubrimiento. Me importó la verdadera causa de su reflexión: un joven economista brasileño, al que no amaba pero que era la seguridad y madurez por excelencia, y yo, Martín Romaña, un joven escritor inédito al que amaba con toda sua alma pero que no cesaba de cometer locuras. Nunca intenté explicarle a Inés que precisamente por ellas me amaba, que cambiar era perderla, y tuve que seguir siendo una verdadera calamidad hasta que se hartó y se fue. Es complicado el asunto, pero es hermoso eso de vivir siempre en su ley hasta que le cae a uno encima, enorme, la espada de Damocles".

Alfredo Bryce Echenique

Blue, blue, blue

Maio de 2002. Numa manhã cinzenta, sentei-me em um dos bancos da histórica Place Dauphine, bem na ponta da Île de la Cité, uma das regiões mais antigas de Paris. Era meu aniversário de 27 anos. Estava sozinho e triste. Precisei de muita força naquele dia para sair da minha melancolia blue, blue, blue.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Le Nouveau Impérialisme

Ceux qui contrôlent la nourriture, contrôlent la nation — Cette frase est complètement vraie, surtout quand il s’agit des pays pauvres. Je l’ai écouté dans une émission française sur les aliments génétiquement modifiés qui, aujourd’hui, suscitent des débats très acharnés. Le problème c’est que les laboratoires qui produisent les semences modifiées ne permettent pas que les agriculteurs produisent leurs propres semences après avoir fait leur premier achat. Ils doivent donc toujours aller chez les représentants des entreprises liées aux grands laboratoires. Ces derniers ont même crée une semence avec une charge génétique capable d’empêcher que leurs “filles” se réproduisent. Il faudra toujours aller au marché pour acheter des semences, et si ça continue, dans l’avenir, la nourriture sera contrôlée par des grandes entreprises, surtout les américaines. Il sera donc beaucoup plus facile d’établir un contrôle politique sur les nations pauvres. Ça sera un nouveau impérialisme, mais toujours ayant comme base le capital financier, dont l’origine on connaît déjà très bien.

Le 23 septembre, 1999

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Youth, Day, Old Age and Night

YOUTH, large, lusty, loving—youth full of grace, force, fascination,
Do you know that Old Age may come after you with equal grace,
force, fascination?
Day full-blown and splendid—day of the immense sun, action,
ambition, laughter,
The Night follows close with millions of suns, and sleep and
restoring darkness.

Walt Whitman