sábado, 8 de novembro de 2008

A coleira do cão

Havia muitas pessoas em volta do ônibus. As duas RP paradas ao lado. Um guarda estava na porta do ônibus. “É o delegado”, avisou Washington. O guarda deu passagem para Vilela. Vilela entrou. “Lá no fundo, doutor”, disse o guarda. Da entrada do ônibus Vilela nada via. Caminhou em direção à porta traseira. Abandonados, em vários bancos, um sapato, uma saca de feira com legumes aparecendo, um jornal, um guarda-chuva. No último banco, encolhido no fundo, braços e pernas dobrados, comprimidos contra o chão, a cabeça enfiada debaixo do banco, estava o corpo de um homem. Atrás de si, Vilela ouviu o chiado de Washington. “Ele tentou ficar pequenino, se enfiar debaixo do banco para ver se escapava, mas não conseguiu. Já vi um sujeito de um metro e oitenta se enfiar num desses nichos de medidor de gás, uma coisa incrível, se dobrou todo, ficou do tamanho de um gato. Mas não adiantou nada, foi estourado lá dentro mesmo. Foi um custo tirar ele do buraco.”

Havia marcas de bala por todos os lados.

Rubem Fonseca. A Coleira do cão (contos)

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