sexta-feira, 28 de junho de 2013

quero o não querer


"Nada mais insuportável do que essa viagem de trem.
Se me atirassem no vagão de gado a caminho do matadouro
talvez eu me soubesse menos infeliz.
Seria o fim, e há no fim uma gota de delícia,
um himalaia de silêncio para sempre.
Não quero ouvir falar de mim.
Não quero eu mesmo estar em mim.
Quero ser o barulho das ferragens me abafando,
quero evaporar-me na fumaça,
quero o não querer, quero o não-quero."
...

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Poesia completa (volume único). Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 2002. p. 1124

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