domingo, 23 de outubro de 2016
As pessoas parecem flores finalmente
"ele a viu em uma loja de bebidas
e isso mexeu com ele
mexeu mexeu mexeu
igual a carne de tubarão ainda viva à luz do sol remexendo-se."
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"meus sapatos no armário como lírios
esquecidos,
meus sapatos agora sós
como cães andando por ruas mortas,
e eu recebi uma carta de uma
mulher em um hospital,
amor, ela diz, amor,
mas eu não lhe respondo,
eu não me entendo,
ela me envia fotografias
dela mesma
tiradas do hospital
e eu me lembro dela em outras
noites,
não morrendo,
seus sapatos com saltos como punhais
ao lado dos meus
no armário;
como aquelas noites fortes
mentiram por nós,
como aquelas noites ficaram quietas
enfim,
meus sapatos agora sós no armário,
sobrevoados por casacos e
camisas amassadas,
e eu olho para a abertura deixada
pela porta
e as paredes, e não
escrevo
uma resposta."
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"eu era tão amarelo de covardia quanto o sol talvez
mas também tão quente e tão verdadeiro quanto o sol
em algum lugar lá dentro de mim
mas nunca ninguém acharia esse lugar.
eu certamente acabaria para sempre chorando os blues em
uma
xícara de café em um parque para velhos jogarem
xadrez ou algum outro jogo bobo.
merda! merda!"
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"eu podia entender a lua inclinando-se sobre um bar no
beco
ao pedir um drinque, mas eu não podia entender nada
sobre mim mesmo
eu estava assassinado, eu era um merda, e era uma
matilha de cães,
eu era papoulas ceifadas por rajadas de metralhadora
eu era uma vespa presa em uma teia de aranha
eu era cada vez menos e menos e ainda assim tentando
alcançar
algo"
Charles Bukowski (1920-1994). As pessoas parecem flores finalmente. Porto Alegre: L&PM, 2015
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