quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O demônio da depressão


"Claudia Weaver sentia-se oprimida pela inflexibilidade de seus pais: 'Eles queriam que eu fosse feliz da maneira deles'. Já na infância 'sentia que vivia em meu próprio mundo. Diferente, isolada e pequena, como se eu não contasse, e perdida em pensamentos, quase inconsciente de outras pessoas. Se eu estava no quintal, simplesmente perambulava por ali, sem ver coisa alguma'. Sua família fazia de conta que nada estava acontecendo. Na terceira séria da escola, ela começou a se retrair fisicamente. 'Eu detestava ser tocada, abraçada ou beijada, mesmo por pessoas de minha família; na escola, sentia-me muito cansada o tempo todo. Lembro dos professores me dizendo: Claudia, levante a cabeça da carteira. E ninguém dava muita atenção a isso. Lembro de ir a uma aula de ginástica e simplesmente adormecer em cima do aquecedor. Detestava minha escola e não tinha vontade de fazer amizades. Qualquer coisa que dissessem podia me ferir, e feria. Lembro de andar pelos corredores na sexta ou sétima série e não me interessar por ninguém e sentir que não me importava com nada. Sou extremamente amarga a respeito de minha infância, embora na época fosse também estranhamente orgulhosa de ser diferente do resto do mundo. A depressão? Estava sempre lá; só levou um tempo para ser nomeada. Eu tinha uma família muito amorosa, mas nunca ocorreu a eles – ou à maioria dos pais de minha geração – que sua filha pudesse estar deprimida'."

Andrew Solomon (1963-). O demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 145

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