"Claudia Weaver sentia-se oprimida pela inflexibilidade de seus pais:
'Eles queriam que eu fosse feliz da maneira deles'. Já na infância
'sentia que vivia em meu próprio mundo. Diferente, isolada e pequena,
como se eu não contasse, e perdida em pensamentos, quase inconsciente de
outras pessoas. Se eu estava no quintal, simplesmente perambulava por
ali, sem ver coisa alguma'. Sua família fazia de conta que nada estava
acontecendo. Na terceira séria da escola, ela começou a se retrair
fisicamente. 'Eu detestava ser tocada, abraçada ou beijada, mesmo por
pessoas de minha família; na escola, sentia-me muito cansada o tempo
todo. Lembro dos professores me dizendo: Claudia, levante a cabeça da
carteira. E ninguém dava muita atenção a isso. Lembro de ir a uma aula
de ginástica e simplesmente adormecer em cima do aquecedor. Detestava
minha escola e não tinha vontade de fazer amizades. Qualquer coisa que
dissessem podia me ferir, e feria. Lembro de andar pelos corredores na
sexta ou sétima série e não me interessar por ninguém e sentir que não
me importava com nada. Sou extremamente amarga a respeito de minha
infância, embora na época fosse também estranhamente orgulhosa de ser
diferente do resto do mundo. A depressão? Estava sempre lá; só levou um
tempo para ser nomeada. Eu tinha uma família muito amorosa, mas nunca
ocorreu a eles – ou à maioria dos pais de minha geração – que sua filha
pudesse estar deprimida'."
Andrew Solomon (1963-). O demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 145
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