"– Entende, morrer eu sabia de antemão e morrer ainda não me exigia.
Mas o que eu nunca havia experimentado era o choque com o momento
chamado 'já'. Hoje me exige hoje mesmo. Nunca antes soubera que a hora
de viver também não tem palavra. A hora de viver, meu amor, estava sendo
tão já que eu encostava a boca na matéria da vida. A hora de viver é um
ininterrupto lento rangido de portas que se abrem continuamente de par
em par. Dois portões se abriam e nunca tinham parado de se abrir. Mas
abriam-se continuamente para – para o nada?"
Clarice Lispector (1920-1977). A paixão segundo G.H. (1964). Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 90-1
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