quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Em Miami

"Nos poucos meses que passei em Miami, não consegui encontrar um só instante de tranquilidade. Vivi cercado de fofocas constantes e confusões, e de uma infinita sucessão de coquetéis, festas e convites. Era como viver num mostruário, uma estranha criatura que precisava ser convidada antes de perder o brilho, antes de chegar um novo personagem que me desbancasse. Não tinha paz para trabalhar e muito menos para escrever. Quanto à cidade – aliás, não é uma cidade e sim um amontoado de casas espalhadas, um povoado de cowboys, onde o cavalo fora substituído pelo automóvel –, ela me assustava. Estava acostumado com uma cidade com ruas e calçadas, uma cidade deteriorada, mas onde era possível andar e entender seu mistério, até mesmo desfrutar esse encanto. Agora, encontrava-me num mundo plástico, carente de mistério, e cuja solidão acabava sendo mais agressiva. Por isso mesmo, comecei logo a sentir saudades de Cuba, da cidade velha de Havana...".

Reinaldo Arenas (1943-1990). Antes que anoiteça (1990). Rio de janeiro: BestBolso, 2009, p. 347

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