"Nos poucos meses que passei em Miami, não consegui encontrar um só
instante de tranquilidade. Vivi cercado de fofocas constantes e
confusões, e de uma infinita sucessão de coquetéis, festas e convites.
Era como viver num mostruário, uma estranha criatura que precisava ser
convidada antes de perder o brilho, antes de chegar um novo personagem
que me desbancasse. Não tinha paz para trabalhar e muito menos para
escrever. Quanto à cidade – aliás, não é uma cidade e sim um amontoado
de casas espalhadas, um povoado de cowboys, onde o cavalo fora
substituído pelo automóvel –, ela me assustava. Estava acostumado com
uma cidade com ruas e calçadas, uma cidade deteriorada, mas onde era
possível andar e entender seu mistério, até mesmo desfrutar esse
encanto. Agora, encontrava-me num mundo plástico, carente de mistério, e
cuja solidão acabava sendo mais agressiva. Por isso mesmo, comecei logo
a sentir saudades de Cuba, da cidade velha de Havana...".
Reinaldo Arenas (1943-1990). Antes que anoiteça (1990). Rio de janeiro: BestBolso, 2009, p. 347
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