domingo, 7 de setembro de 2014

regresso



"As lágrimas corriam, os olhos não podiam mais ver, mas aquela asfixia mortal tinha-se desvanecido. Quando caiu em si, sentindo o gosto de sal em seus lábios e percebendo que estava chorando, houve um momento em que lhe pareceu tornar-se de novo um menino e não ter maldade nenhuma. Sorriu, envergonhou-se um pouco de suas lágrimas, finalmente ergueu-se e prosseguiu viagem. Sentia-se inseguro, não sabia aonde a fuga o haveria de conduzir nem o que seria dele. Comparava-se a uma criança, mas não havia mais nenhum combate ou vontade dentro dele, sentia-se mais leve e conduzido, como que atraído e chamado por uma voz longínqua e bondosa, como se sua viagem não fosse uma fuga, mas sim um regresso. Foi ficando cansado e a razão também: ela já não falava mais, ou descansava, ou então já não se cria mais indispensável."

Hermann Hesse (1877-1962). O jogo das contas de vidro (1943). 4ª ed. Rio de Janeiro: BestBolso, 2010, p. 596

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