"Numa das vezes em que me falou de suas viagens pelo mundo, perguntei aonde queria chegar e ele me disse que estava em busca de um ponto de vista. Eu lhe perguntei: 'Para olhar o quê?'. Ele respondeu: 'Um ponto de vista em que eu já não esteja no campo de visão'. (...)
Também demorei a entender o que ele queria dizer com aquilo, o que havia de mais terrível nas suas palavras: que, ao contrário dos outros, vivia fora de si. Via-se como um estrangeiro e, ao viajar, procurava apenas voltar para dentro de si, de onde não estaria mais condenado a se ver. Sua fuga foi resultado do seu fracasso. De certo modo, ele se matou para sumir do seu campo de visão, para deixar de se ver."
Bernardo Carvalho (1960-). Nove noites (2002). São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 111-12
Nenhum comentário:
Postar um comentário