terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Dias de amarrar barbante ao redor do nada


"Hoje acordei bem prático, sofístico,
sem pudores de lógica e moral,
fechado em mim, feito uma ostra, um dístico
ou uma pedra (mas não filosofal).
Devia haver mais dias como este,
livres de compromissos com dois mil
anos de ocidentalismo, a nordeste,
a sul, a sotavento do Brasil
ou do que quer que seja. Simplesmente
ser, sim, mas contingência pura, só,
nada que deixe um rastro ou excedente
em sangue, fezes, páginas ou pó.
Dias de amarrar barbante ao redor
do nada, e capturar um deus menor."

Paulo Henriques Britto. De 'Cinco sonetos frívolos'. In: 'Formas do nada'

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