terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Às vezes é preciso abandonar o barco
"Às vezes é preciso abandonar o barco,
A luta, o carrossel, o circo inteiro,
E partir como ave migratória para o norte
Em busca de terras de verão e sol,
Mas quando isto for preciso
Que se faça com rosto limpo,
A face descoberta e voltada para a frente,
Que não haja mentiras nem tristeza.
Queimem-se as lembranças, quebrem-se
As garrafas; enterrem-se cinzas e cacos.
Seja-se até os ossos mais frágeis
Uma ave migratória: a volta existe
Mas é outra história, e não desculpa
A permanência no ponto de partida."
Flávio Aguiar. In: Heloisa Buarque de Hollanda (org.). 26 poetas hoje (1ª ed.: 1975), p. 138
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