segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Olhar para o futuro


"...o que mais ameaçava Rosane era uma dúvida: será que, no fundo, o jeito de Rosane, sua opção, era de fato melhor? Rosane queria estudar, queria aprender, queria ter educação, queria uma profissão mais qualificada, poder ganhar mais, poder comprar mais coisas, queria ser respeitada por eles, os outros, aquela gente toda – queria poder morar em outro lugar, melhorar de vida, ser outra pessoa, ser alguém, alguém – isso era o certo, era o que todos diziam, era sabido e apregoado em toda parte – ali estava o que era bom fazer, o que era bom ter sempre na cabeça e não desistir nunca.

Dali, daquele ângulo bem definido e cada vez mais estreito, é que se devia olhar para o mundo em redor. Era dali que se devia lançar o olhar para o futuro. Mas a cada dia as dificuldades se mostravam tão flagrantes, os obstáculos eram tão descarados em seu poder e se levantavam tão desproporcionais às forças de Rosane que ela às vezes parava com um susto, uma surpresa, e de repente topava com um imenso vazio à sua volta."


Rubens Figueiredo (1956-). Passageiro do fim do dia (2010). São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 63-4

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