segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Novamente em casa


"Eu estava novamente em casa. Era ótimo. Recurvei-me sobre minha barriga. No Vietnã, os exércitos estavam lutando. Nos becos, os vagabundos mamavam em suas garrafas de vinho. Vi uma aranha escalando o peitoril da janela. Vi um jornal velho no chão. Havia uma foto de três garotas pulando uma cerca e mostrando muito das pernas. O lugar todo se parecia comigo e tinha meu cheiro. O papel de parede me conhecia. Era perfeito. Estava consciente de meus pés e meus cotovelos e meus cabelos. Não me sentia como se tivesse 45 anos de idade. Sentia-me como um maldito monge que recém houvesse recebido uma revelação. Sentia-me como se estivesse apaixonado por algo que fosse muito bom, mas não sabia exatamente o quê, exceto que estava ali, bem perto. Escutei todos os sons, os ruídos das motocicletas e dos carros. Ouvi os cães latindo. Pessoas rindo. Então dormi. Dormi e dormi e dormi. Enquanto uma planta olhava através da minha janela, enquanto velava meu sono. O sol seguia sua labuta e a aranha ficou a rastejar por ali."

Charles Bukowski (1920-1994). Ao sul de lugar nenhum - Histórias da vida subterrânea (1973). Porto Alegre: L&PM, 2011.

Nenhum comentário: