quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

noite escura de um segredo


"Seria a noite escura de um segredo. Quando a noite caísse ainda cedo as lâmpadas iluminariam, aqui e acolá, o sórdido bairro dos bordéis. Ele seguiria um curso errante para cima e para baixo das ruas, andando em círculos cada vez mais próximos em um tremor de medo e alegria, até que os pés de repente o levassem a dobrar em uma esquina escura. As putas estariam saindo das casas e se aprontando para a noite, bocejando preguiçosamente depois de tirar um cochilo e de ajeitar os alfinetes nos cabelos. Ele passaria por elas calmamente enquanto aguardava um movimento repentino da própria vontade ou um chamado repentino à própria alma pecaminosa vindo daquelas carnes perfumadas. Porém, enquanto perambulava em busca desse chamado, os sentidos, embotados por esse único desejo, percebiam de maneira aguda tudo o que os feria ou os envergonhava". 

James Joyce (1882-1941). Retrato do artista quando jovem (1916). Porto Alegre: L&PM, 2014, p. 123

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