"...ele falava do Padre Jacobus. Com ele Servo aprendeu uma coisa que lhe seria quase impossível aprender em Castália nessa época; não só adquiriu uma visão geral dos métodos e meios de conhecimento e de pesquisa históricos, e um começo de prática no seu uso, como além disso aprendeu a considerar a História e a vivenciá-la não só como um ramo da ciência, porém como uma realidade, como vida, e para isso requer-se a respectiva transformação da própria vida pessoal, elevando-a à História. De um homem que possuísse só erudição ele não poderia aprender isso. Jacobus, além de erudito, era um contemplativo e um sábio. Além do mais, vivenciava as experiências e ajudava a criá-las; não se aproveitara do posto em que seu destino o colocara para se aquecer no conforto de uma existência contemplativa, mas havia deixado os ventos do mundo soprarem em seu aposento de sábio, e as necessidades e os pressentimentos de sua época penetrarem em seu coração, participando dela em suas culpas e responsabilidades. Não se contentara apenas em lançar um olhar a fatos de um longínquo passado, classificando-os e decifrando-os, e não se ocupara só com a vida das ideias, mas se preocupara também com a rebeldia da matéria e dos homens."
Hermann Hesse (1877-1962). O jogo das contas de vidro (1943). 4ª ed. Rio de Janeiro: BestBolso, 2010, p. 229
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