sábado, 9 de agosto de 2014

Abaixo de zero



"Manhã de Natal e estou doidão devido ao pó, e uma de minhas irmãs me deu uma agenda encadernada em couro, bem cara, com páginas grandes e brancas e datas impressas elegantemente ao alto das folhas, em filigranas douradas e prateadas. Agradeço-lhe e a beijo, todas essas coisas que se costuma fazer, e ela sorri e se serve de outra taça de champanhe. Tentei manter uma agenda durante um verão, mas não deu certo. Ficava confuso e anotava as coisas à toa e cheguei à conclusão de que eu não tinha atividades o suficiente para manter uma agenda. Sei que não vou usar esta e, provavelmente, vou levá-la comigo para New Hampshire e ela vai ficar jogada na minha escrivaninha por três ou quatro meses, sem ser usada, em branco. Minha mãe nos observa, sentada no sofá da sala, tomando champanhe. Minhas irmãs abrem os presentes displicentemente, indiferentes. Meu pai parece elegante e firme e está preenchendo cheques para mim e minhas irmãs, e eu me pergunto por que ele não preencheu todos antes, mas esqueço e olho pela janela, para o vento quente soprando pelo terreno. A água ondula na piscina."

Bret Easton Ellis (1964-). Abaixo de zero (1985). Porto Alegre: L&PM, 2011, p. 61-2

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