"Eu sou triste como um prático de farmácia,
sou quase tão triste como um homem que usa costeletas
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.
Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.
Quantas meninas pela vida afora!
E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.
Se eu tivesse estes contos punha a andar
a roda da imaginação nos caminhos do mundo.
E os fregueses do Banco
que não fazem nada com estes contos!
Chocam outros contos pra não fazerem nada com eles.
Também se o Diretor tivesse a minha imaginação
O Banco já não existiria mais
e eu estaria noutro lugar."
Murilo Mendes (1901-1975). Poemas (1925-1929) e Bumba-meu-Poeta (1930-1931). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 37
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